O Mercado e seus contrastes
Disseram para falar sobre contrastes no Mercado Central de Belo Horizonte; eu disse - OK, sem problemas! E lá fui passear para arejar as ideias.
Logo ao entrar vi, lado a lado, uma loja de artigos para pescaria em geral e uma que vendia peixinhos, aquários, ração para peixes, etc. Em frente, uma loja de doces, que avizinhava-se com outra de produtos naturais. Ou ainda o dono da loja de fumo, que tossia sem parar e escarrava uma borra preta a cada tossida. Tabaco? - perguntei. Não jovem, é meu pulmão dissolvido mesmo - respondeu com um lindo sorriso banguela com três dentões amarelos.
Como assim? Será assim tão fácil a percepção de contraste no Mercado? Ficaria indignado de gastar um dinheirão em passagem para cinco minutinhos de passeio. Continuei, como um bom Flanêur, perambulando a esmo por aquele sem fim de corredores. O que pude perceber é que os contrastes neste ambiente excedem, e muito, à simples localização de lojas e afins. Odores, sabores, transeuntes, chamarizes, tudo no Mercado se apresenta em múltiplas facetas, para múltiplos gostos e desejos. Depois de tão árdua jornada de conhecimento, ia-me embora feliz e satisfeito de alcançar meu intento, quando algo me chamou a atenção: em uma de minhas voltas, percebi um casal que estava sentado em um bar, trocando carícias (nada explícito, por favor...) e fazendo juras de amor eterno. Sinceramente, aquilo me tocou. Acho que por isso fiquei tão entretido quando, minutos depois, vi o rapaz tomando uma montanha de socos e pontapés de sua amada, que o acusava de flertar descaradamente uma jovem e apetecível senhorita que estava algumas mesas à frente.
Ah, o amor. Ah, o Mercado e seus contrastes...