Os melhores peixes

Certa vez o proprietário de uma grandiosa fazenda (tão grande que diziam os românticos não ter fim, porém diziam os céticos ele não ser dono de nada) pediu ao seu filho favorito que fosse pegar alguns peixes numa lagoa próxima.

- Jesus, preste atenção meu filho: Quero que vás até aquela lagoa minúscula no meio da minha propriedade e pegue os melhores peixes que encontrares. Eles ficarão no meu aquário e viverão aqui para sempre conosco. Mas não esqueça: somente os melhores. Vou acabar com aquela lagoa, ela tem me dado muita dor de cabeça ultimamente.

Jesus, um filho muito obediente e temente ao pai, obedeceu.

- Sim pai, vou e volto num instante. Trarei os melhores peixes daquela lagoa, como mandas.

E assim foi. A vara de pesca no ombro e uma bolsa a tiracolo com um recipiente grande para colocar os peixes.

Passaram-se muitos e muitos dias até que Jesus alcançasse a tal lagoa, que ficava num canto qualquer da propriedade. Chegando lá, encontrou-a muito agitada, com os peixes em polvorosa. Uns passavam sobre os outros para serem salvos, uns matavam os outros para ter os melhores alimentos, outros roubavam mediante ameaça, outros matavam só por diversão. Os peixes maiores subjugavam os menores e os menores, por sua vez, praticavam os atos mais nefandos de violência para fazerem valer seus direitos. Estava um caos total. Jesus passou mais alguns dias para escolher, mas no fim não encontrou peixe que merecesse viver eternamente no aquário de seu pai.

Infeliz e muito decepcionado (para não dizer com medo da má noticia), Jesus voltou para a casa do Pai. Chegando lá, o fazendeiro foi logo cobrando:

- Então, Jesus, pegaste os peixes que eu to pediste?

Muito tristonho e receoso na presença do pai (ele era muito grande, quase onipotente) disse:

- Não há peixe bom naquela lagoa, Pai. Todos estão corrompidos pela maldade e perversidade. Passei dias escolhendo, mas nem mesmo aqueles que você alimentou e cuidou, quando lá estiveste, são bons. Sinto muito, pai, mas não havia peixe que merecesse viver no seu aquário.

O fazendeiro não ficou furioso como Jesus imaginava, mas assumiu um semblante muito triste.

- É uma lástima. Criei essa lagoa com tanto afinco. No fim se mostrou uma grande decepção. Acabarei com ela dentro em breve. E, pior de tudo, o aquário foi comprado justamente para esses peixes. – Sorrindo após um tempo de reflexão, concluiu: - Bom, não há remédio. Outras lagoas podem ser abertas e outras gerações de peixes nascerão... eles não serão os últimos, nem foram os primeiros.

Leo Ramos
Enviado por Leo Ramos em 01/12/2009
Código do texto: T1953642
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