e agora... o que vamos fazer?
Eu caminhava perto da estação de trem, indo do trabalho para casa, era de tarde, logo o Sol se esconderia por detrás dos prédios da pequena cidade, quando avistei um casal de velhinhos vindo em minha direção em passos lentos. Eles não me viam, estavam preocupados com outra coisa, algo que procuravam no chão com os olhares fixos nas sombras. A velha senhora, já meio encurvada com o peso dos anos, tinha os olhos quase que chorando. – E agora? Perguntava ela ao marido. O que vamos fazer? O homem, não tão encurvado, mas carregando a mesma carga de anos, tentava consolar a companheira de tantas décadas: -- Não se preocupe querida. Nós conseguiremos outro.
Foi tudo que pude ouvir do diálogo. Eles iam em um sentido e eu em outro. Logo, permaneceram apenas em meus pensamentos. E meus pensamentos me perturbam até hoje, muitos anos depois.
Os velhinhos haviam perdido todo seu dinheiro, deduzi, e procuravam na penumbra da noite que caia, seguindo o caminho que haviam percorrido há pouco. Gostaria de poder ter oferecido ajuda naquele momento, mas não foi o que aconteceu. Fiquei triste, pensativo... indagativo. Que modelo de existência é essa que nos arrasta até o final de nossas vidas sem o mínimo de dignidade? Que pecados estamos pagando? Serão nossos pecados ou pecados de nossos pais? Ou ainda de outras vidas? (Pensei...) Se existe um Deus, naquele momento Ele também estaria chorando, sendo obrigado a assistir cena tão ultrajante.
O tempo passou, as emoções se abrandaram... Não sei que fim levou o casal de velhinhos. Mas devem ter tido o mesmo fim de tantos outros velhinhos que vemos por aí. É decepcionante... Uma vida juntos, filhos criados, netos amados, alguns sonhos realizados, outros não, juras de amor e eternas noites de carícias; para no final restar a tristeza de ter perdido míseros Reais.
– E agora? Ouço a voz da senhora ecoando através do tempo. – Não se preocupe querida. Nós conseguiremos outro.
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