PESCOÇADA DE PERU

Numa sexta-feira calorenta dessas, acompanhado da minha esposa Maria Mari, da nora Karina, do meu filho Cássio e sua Adriana, estivemos no Bar Capitão Cauteloso, na Cachoeirinha, cujo proprietário, Sr. Mauro Dell’ Isola, cinéfilo e amante da boa musica, sempre oferece atrativos a mais aos seus seletos freqüentadores. Ele havia nos prometido uma “Pescoçada de Peru” com cebola, arroz e batatas, acompanhado dumas “louras” geladas e fomos lá conferir.

Logo na chegada fomos muito bem recebidos pelo Sr. Mauro, que nos introduziu às mesas do fundo do bar, num canto reservado às famílias que sempre ali vão em busca dos seus tira-gostos variados (moelas de frango, almôndegas, bolinhos de espinafre, linguicinhas, etc.), fazendo-nos sentir bem à vontade.

Em seguida veio a “Pescoçada”, seguida por algumas garrafas da espetacular cerveja “Lokal”, produto de Teresópolis/RJ, cuja bebida o dono do bar está divulgando. O ambiente tornou-se ainda mais festivo, com o pessoal comendo e bebericando gostosamente. O papo rolava frouxo, seguido de boas risadas.

Meus familiares, novatos no bar, observavam com interesse as fotos nas paredes do estabelecimento:- grupos de amigos em comemorações, “karaokês”, disputas de sinuca, cujos eventos são sempre promovidos pelo Sr. Mauro, criativo como ele só. Aí, notamos um quadro grande na parede frontal à mesa de sinuca, onde se viam jogadores e platéia (sapos). Nesse quadro, aparecia o legendário “Amendoim”, com os dizeres na parte inferior do retrato:- “Amendoim, o maior astro da sinuca de Minas Gerais em todos os tempos!”

Conversando com o Sr. Mauro, ele me disse que conheceu “Amendoim” nos idos de 1960 e que realmente ele foi, de fato, um mestre da sinuca. Era sempre convidado para exibições no Batalhão da P.M. no bairro do Prado. Nessas ocasiões, um capitão reunia os soldados e perguntava aos mesmos:-

“- Quem de vocês joga sinuca?”, e escolhia uns dez para servir de “sparring” para o “Amendoim”. Este os derrotava, um por um, fácil, fácil. Às vezes, deixava o adversário matar muitas bolas, dando-lhe corda, mas depois o arrasava. Era um mito da sinuca. Quando ele se aproximava do salão, ouviam-se vozes:-

“- Lá vem o homem! Quem vai ser o primeiro a enfrentá-lo???...”

“Amendoim” era um sujeito pacífico, gozador e sistemático. Quando dizia “não” era “não” mesmo. Se o adversário tivesse tomado três ou mais cervejas, ele recusava-se a jogar, dizendo:-

“- O amigo está calibrado. Ganhar de você nesse estado é o mesmo que tirar picolé duma criança. Vá apagar esse fogo! ...”

“- Qual é, “Amendoim”? Ontem eu joguei com você, por que não jogo hoje?”

“- Ontem foi ontem, hoje é hoje. Eu nem me lembro o que comi ontem! ...”, dizia.

Assim era “Amendoim”, gozador ao extremo, mas pacífico, sereno. Jamais arrumava confusão, não era de brigar com ninguém. Um boa praça.

Vimos também, na parede, um grande painel com cenas do filme “Capitão Cauteloso”, que deu origem ao nome do bar. A escolha do nome é do Sr. Mauro, cinéfilo desde criança e fã ardoroso do Victor Mature. O filme é considerado o maior sobre pirataria em alto mar, com o único ator que dispensava “doublé” , segundo o Sr. Mauro. Ao lado do painel existem alguns bonecos com os dizeres:- “- Os bonecos não estão à venda. São sósias do Capitão. Favor não mexer e não insistir!”

Os bonecos são a cara do Capitão (Victor Mature) e o aviso com os dizeres é uma velha mania do dono do bar, o Sr. Mauro (avisos de “Fiado só amanhã”, “Não aceito pendura!”, “É proibido sentar criança no freezer”, etc., são comuns no boteco). Essa é a mística do “Capitão Cauteloso”, um bar com a cara do dono, o singular Sr. Mauro Dell’ Isola. Venham conhecê-lo e provar a tal “Pescoçada de Peru” ! ...

E assim, já de madrugadinha, deixamos o bar, todos de bucho cheio e de alma lavada, procurando nossas casas e nossas camas para um descanso merecido. Até outro dia, Sr. Mauro! E boa noite, “Capitão Cauteloso”!...

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B.Hte., 16/02/07

RobertoRego
Enviado por RobertoRego em 30/11/2009
Código do texto: T1951744
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