Infitete e mandrião
Estou construindo glossário de termos regionais que não constam nos dicionários. Quem se lembrar de palavras que ouvia na infância, vocábulos que se perderam por falta de uso, agradeço a colaboração.
Infitete, por exemplo, o que é? E mandrião? Minha vó Biu costumava nos chamar de mandriões. Alguma coisa a ver com preguiçosos. Infitete é um termo mais pesado, que ela nunca usou. “Tem gente que ainda quer esse infitete no Governo”, escreveu um internauta sobre José Maranhão no blog “ClicPB”. A palavra pode significar infeliz, uma corruptela. Tem a grafia infiteto, que é o sujeito macambúzio, triste, aborrecido.
Pior é ser chamado de “pudrura”. Corruptela de podre. Quatro palavras que colhi nos interiores por onde passei: esguei, esbrungue, farnizim e cabrunco. O que significa esguei pra você? Eu acho que tem a ver com algo torto, enviesado. Esbrungue é termo muito usado pelo poeta e declamador Sanderli Silva, puxando o verbo esbrunganhar. Não tem nada a ver com esbregue, que significa bronca ou reclamação pesada, barulho. Esbrungue é o sujeito desmantelado, o tipo jegue. Farnizim é termo catalogado no Dicionário Informal, com o significado de mal estar.
Cabrunco, uma palavra que ouvi pela primeira vez no sítio Entroncamento, município de Cruz do Espírito Santo. Segundo o tal dicionário, o termo cabrunco deriva de carbúnculo, doença que afetava gado bovino. O termo pode ser um palavrão, elogio ou significar espanto. Se palavrão, relaciona-se ao diabo; se elogio, vale como superlativo; se expressão de espanto, serve para demonstrar um susto.
Minha avó paterna, de origem rural e analfabeta, costumava usar um termo que só depois vim a entender: aruvai. “Menino, cuidado com o aruvai”, dizia ela a caminho do roçado. Era o orvalho da manhã acumulado nas plantas rasteiras, molhando as nossas calças curtas. Essa avó, Joana Cândida da Costa, era uma pessoa tão querida e popular na velha Itabaiana que hoje é nome de rua.