UM DIA MILAGROSO
Não agüentei mais ficar dentro de casa sozinha. Mesmo com o joelho doendo resolvi que um domingo feito o dia de sábado, de ontem, totalmente só, sem dizer uma palavra com alguém e sem trocar simples frases com outro, seria insustentável.
Planejei ir devagarzinho e ajuda da bengala até o Vila Rica; e de lá, quem sabe ir pegar umas flores na feira, que é só atravessar a rua da Glória. E, se não agüentasse , voltaria no meio do caminho.
No devagar consegui chegar lá. Sentei nas mesinhas da calçada. Pedi uma água de coco. Por precaução levara o medidor de glicose que deve ter medição antes das refeições. E aí a calma e o descanso me envolveram de paz. Treze horas, puxei da bolsa o medidor e, discretamente, fiz a medição às treze horas: 112. Desisti das flores e pedi uma salada mista.
De repente passa na minha frente o pai dos meus netos acompanhado de um menino, nos seus dez a doze anos. Entraram na padaria ao lado.
Parei tudo.
Pensei; é o Raul como Marcelo. Quando saírem, vou abordá-los.
E assim foi. Enorme, pele branca sem sol, cabelos brancos. O menino, lindo, claro também e cabelos castanhos lisos.
“_Raul!”
Ele se aproximou e conversamos como se não tivessem corrido anos.
Enquanto ele explicava que não sabia por que mãe e filha tinham brigado, eu me comunicava com meu neto, belíssimo, olhos lindos e expliquei pra ele que o amo em todos os dias, e que seremos amigos a partir de agora, que moro aqui pertinho, e abracei inúmeras vezes, e beijei repetidas vezes sua mão de menino, enquanto dizia no abraço que amo a Lela, sua mãe e que eu sou sua avó Maria Luiza, e que o amo, e que ele é lindo, beijei, beijei-o, beijei ele todo, ali em plena calçada, esquecidos do fora de nós. E ele me abraçou com força. Querido, querido...
O Raul explicou que “vive dizendo pra Lela pra acabar com essa briga”, mas que ela é orgulhosa...
Comecei a chorar dizendo para o Raul: “_ você me dê tel. e endereço de vocês e combina com a Lela se eu vou até lá ou se ela vem á minha casa, ou se marcamos um encontro num restaurante assim que a Luciana chegar da Bélgica. Eu banco o encontro, agora, antes do natal. Vamos nos reunir todos e comemorar!”
Abracei-o comovida, e ele dizia do alto do seu tamanhão, “_que ia organizar tudo a ficar tudo bem, outra vez, que ia conversar com a Lela e íamos nos telefonar e encontrar, dentro de uns quatro dias.”
Em papeizinhos de bar escrevi meu endereço e telefone e ele fez o mesmo a meu pedido e o seu celular inclusive.
E o mundo mudou.
Veio o garçom, indagando se estava tudo bem e eu chorando lhe contei o acontecido e pedi uma latinha de Skol, trazida rapidamente. Mandei embrulhar o almoço para viagem e fui com o copo até ao jornaleiro e comprei a “Folha” para pisar no chão real.
Adentram para o jornaleiro o Raul de roupa mudada com a Giovanna que está mocinha de cabelos longos e fartos. Linda e quase inexpressiva, branca feito o pai e encarei seus olhos que não são mais azuis vivos, parecem verdes. Ele a trouxe para mim: abriram-se as portas... Meu Deus, meu Deus!
Peguei sua mãozinha e expliquei pra ela, talvez não estivesse entendendo, mas um dia milagroso estava acontecendo, pois houvera uma briga entre eu e minha filha a toa, e me fora proibido de aparecer, e que ela falasse para a Lela como a amo todos os dias.
Giovanna, você parece uma madona italiana, como filha de Nossa Senhora. E nos abraçamos e chorei, chorei e me debrucei nos seus ombros de criança: ‘vamos ser muito amigas, muito amigas’.
Vamos comemorar todos juntos. Pode ser aqui no “Vila Rica” lá dentro no ar-com, ou no “Botequim”, onde vocês quiserem, e eu banco tudo.
Visivelmente o Raul estava satisfeito e aliviado e, entre as emoções ele dissera que ele estava doente, que a própria mãe está doente, e que a Lela não está muito bem também. Mas que ela se formara em Direito e passara em segundo lugar entre quarenta, que foi uma festa belíssima e que ele insistira para que me chamassem.
Despedimo-nos com emoção e novas esperanças de vida.
Não agüentei mais ficar dentro de casa sozinha. Mesmo com o joelho doendo resolvi que um domingo feito o dia de sábado, de ontem, totalmente só, sem dizer uma palavra com alguém e sem trocar simples frases com outro, seria insustentável.
Planejei ir devagarzinho e ajuda da bengala até o Vila Rica; e de lá, quem sabe ir pegar umas flores na feira, que é só atravessar a rua da Glória. E, se não agüentasse , voltaria no meio do caminho.
No devagar consegui chegar lá. Sentei nas mesinhas da calçada. Pedi uma água de coco. Por precaução levara o medidor de glicose que deve ter medição antes das refeições. E aí a calma e o descanso me envolveram de paz. Treze horas, puxei da bolsa o medidor e, discretamente, fiz a medição às treze horas: 112. Desisti das flores e pedi uma salada mista.
De repente passa na minha frente o pai dos meus netos acompanhado de um menino, nos seus dez a doze anos. Entraram na padaria ao lado.
Parei tudo.
Pensei; é o Raul como Marcelo. Quando saírem, vou abordá-los.
E assim foi. Enorme, pele branca sem sol, cabelos brancos. O menino, lindo, claro também e cabelos castanhos lisos.
“_Raul!”
Ele se aproximou e conversamos como se não tivessem corrido anos.
Enquanto ele explicava que não sabia por que mãe e filha tinham brigado, eu me comunicava com meu neto, belíssimo, olhos lindos e expliquei pra ele que o amo em todos os dias, e que seremos amigos a partir de agora, que moro aqui pertinho, e abracei inúmeras vezes, e beijei repetidas vezes sua mão de menino, enquanto dizia no abraço que amo a Lela, sua mãe e que eu sou sua avó Maria Luiza, e que o amo, e que ele é lindo, beijei, beijei-o, beijei ele todo, ali em plena calçada, esquecidos do fora de nós. E ele me abraçou com força. Querido, querido...
O Raul explicou que “vive dizendo pra Lela pra acabar com essa briga”, mas que ela é orgulhosa...
Comecei a chorar dizendo para o Raul: “_ você me dê tel. e endereço de vocês e combina com a Lela se eu vou até lá ou se ela vem á minha casa, ou se marcamos um encontro num restaurante assim que a Luciana chegar da Bélgica. Eu banco o encontro, agora, antes do natal. Vamos nos reunir todos e comemorar!”
Abracei-o comovida, e ele dizia do alto do seu tamanhão, “_que ia organizar tudo a ficar tudo bem, outra vez, que ia conversar com a Lela e íamos nos telefonar e encontrar, dentro de uns quatro dias.”
Em papeizinhos de bar escrevi meu endereço e telefone e ele fez o mesmo a meu pedido e o seu celular inclusive.
E o mundo mudou.
Veio o garçom, indagando se estava tudo bem e eu chorando lhe contei o acontecido e pedi uma latinha de Skol, trazida rapidamente. Mandei embrulhar o almoço para viagem e fui com o copo até ao jornaleiro e comprei a “Folha” para pisar no chão real.
Adentram para o jornaleiro o Raul de roupa mudada com a Giovanna que está mocinha de cabelos longos e fartos. Linda e quase inexpressiva, branca feito o pai e encarei seus olhos que não são mais azuis vivos, parecem verdes. Ele a trouxe para mim: abriram-se as portas... Meu Deus, meu Deus!
Peguei sua mãozinha e expliquei pra ela, talvez não estivesse entendendo, mas um dia milagroso estava acontecendo, pois houvera uma briga entre eu e minha filha a toa, e me fora proibido de aparecer, e que ela falasse para a Lela como a amo todos os dias.
Giovanna, você parece uma madona italiana, como filha de Nossa Senhora. E nos abraçamos e chorei, chorei e me debrucei nos seus ombros de criança: ‘vamos ser muito amigas, muito amigas’.
Vamos comemorar todos juntos. Pode ser aqui no “Vila Rica” lá dentro no ar-com, ou no “Botequim”, onde vocês quiserem, e eu banco tudo.
Visivelmente o Raul estava satisfeito e aliviado e, entre as emoções ele dissera que ele estava doente, que a própria mãe está doente, e que a Lela não está muito bem também. Mas que ela se formara em Direito e passara em segundo lugar entre quarenta, que foi uma festa belíssima e que ele insistira para que me chamassem.
Despedimo-nos com emoção e novas esperanças de vida.