"Parabéns, pra você"
Deitada no sofá, Mara tinha nas mãos o calendário: faltavam apenas dois dias para seu aniversário. Parecia incrível, mas ia completar trinta anos. Parou pensativa. Sem dúvida, aquela não era uma data qualquer...
Lembrou-se dos últimos aniversários que tivera. Um fracasso! Desde que fora para São Paulo aquela data passava em branco. Os familiares longe, no interior, sequer lembravam de um telefonema, um mero cartãozinho que fosse! E os colegas da empresa? Estes então, uns ingratos. Um dia tão importante para ela! E eles, nem uma palavrinha! Ao final do dia, voltava pra casa sem um abraço ou um simples “Parabéns pra você”. Sem brincadeira, era desanimador!
Um estranho vazio e muita solidão: era o que Mara sentia naquelas ocasiões. Também quem mandava ser tão sentimental? Desde criança tinha aquela tolice de achar seu aniversário o acontecimento mais importante do mundo. O problema é que nem todo mundo parecia pensar assim. Por isso, ficava de cara amarrada por muitos dias, até passar a mágoa por tanta desconsideração. Gente insensível! Será que ninguém ligava pra ela?
De repente a cabeça de Mara deu um estalo. Lembrou-se do último curso promovido pela firma. Ao final, o consultor tinha apresentado num telão as “10 dicas para ser mais feliz”. Ela guardara justamente a de número 8, porque tinha tudo a ver com ela: “Não espere que todos se lembrem de seu aniversário. Ao contrário, anuncie-o você mesmo”.
Pronto! Era aquilo! Estava ali uma boa idéia para não passar em brancas nuvens, ou para ser mais exata, em negras nuvens, seu espetacular aniversário de número 30. Não ia ficar esperando que se lembrassem, melhor dizendo, que não se lembrassem dele. Ela mesma ia proclamá-lo aos quatro ventos.
Dia 14 de abril, quinta-feira. Mara recolheu os papeizinhos, preparados na véspera, que diziam: “Não se esqueça, hoje é aniversário da Mara”. Chegou mais cedo na firma e foi afixando o lembrete por todo canto. Assim, a portaria, o elevador e o quinto andar inteiro foram notificados de que naquele dia glorioso estava acontecendo algo super importante: a Mara, da tesouraria “estava colhendo mais uma flor no jardim de sua existência”.
O resultado não podia ter sido melhor. Não houve quem não achasse graça na iniciativa da moça. Logo, um espírito festivo tomou conta da seção e ninguém economizou nos beijinhos e abraços. O intervalo do café, sempre tão corrido, ficou mais comprido naquele dia. E viva! Quem diria? Até o chefe geral veio se juntar aos subalternos para engrossar o coro de um alegre “Parabéns pra você, nesta data querida”. E todo mundo saudou com entusiasmo e grande euforia o trigésimo aniversário de Mara, que nem desconfiava, mas era muito querida por ali. Os vinte e três colegas da seção cuidaram para que fossem distribuídos alguns bombons. Até um misterioso ramalhete de flores do campo (sem remetente) apareceu sem qualquer aviso. De quem viria?
Do clima contagiante à pizza na esquina, às oito em ponto, foi um pulo. Ninguém faltou e houve até o violão do Gabriel “para recordar os bons tempos da Jovem Guarda, lá de antigamente".
Naquela noite, ao entrar em casa, Mara experimentou um sentimento novo: estava feliz pelo “Feliz Aniversário” que tinha proporcionado a si mesma. No lugar da solidão e do rancor “por ninguém ter se lembrado de mim” havia a alegria de se sentir festejada pelos amigos. Ao se preparar para dormir teve para a própria imagem refletida no espelho um olhar de aprovação. Em voz alta e cantante ela disse:
_ É isso aí, Mara ! Parabéns pra você!!!