COTIDIANO
Quarta-feira! O dia amanheceu nublado, chato. O despertador, essa manhã, parece que fez de propósito tanto barulho. Ele sabe que tem o poder de me acordar toda manhã. Tem o enorme prazer em me deixar chateado, por mais que seja exótico ou erótico o meu sonho e sempre na melhor parte. Isso me deixa puto da vida e ainda mais com esse tempo intragável. Olho ao redor da enorme cama que parece um oceano a me tragar e não vejo nenhuma bóia a vista pra me salvar. Tenho vontade de trocar essa cama, mas quando chego cansado é nela que repouso e sonho. As roupas, algumas espalhadas pelo chão e outras em cima da cadeira, me faz lembrar que hoje é dia de lavar roupa suja. Rio dessa observação e me lembro que roupa suja se lava em casa, mas esse não é o caso. Alias, meu apartamento está precisando de uma limpeza geral, preciso ligar para a diarista. A água da ducha está tão quente que parece que estou numa sauna, talvez esteja precisando de uma para me relaxar completamente. Passo na lavanderia e sigo pra rodovia principal para chegar ate meu trabalho. O vento que bate no meu rosto não é o mesmo que daqui a pouco será uma brisa dentro do meu sufocado escritório, adornado com aquela secretaria de coque na cabeça com aqueles olhos de tarada, que fica tirando a minha roupa e com aquela voz melosa que me dá náuseas, sempre quando eu agradeço a ela por algum pedido atendido e pior que a danada é eficiente. Nesse momento toca no radio uma musica dos Bee Gees, é um ritmo que me contagia e sei que vou ficar com essa musica o dia inteiro cantando dentro de mim, isso me faz com que eu fique com um balanço no andar, mas é uma maneira de dar um movimento melhor ao dia. A manhã transcorre de maneira tumultuosa, com aqueles três telefones na minha mesa me chamando de maneira insistente, irritante. O meio dia chega mais rápido do que de costume. Não sinto vontade de ir almoçar e então peço pra cantina do restaurante me mandar um lanche rápido. Eles são rápidos, em 15 minutos já está sobre a minha mesa. Tiro os sapatos e fico com as pernas em cima da mesa para aliviar a tensão da manhã, fico olhando o movimento da estrada do meu 13º andar e o silencio daquele momento me tranqüiliza. Deixo vir à tona lembranças da semana passada, nem sei por que me lembrei da semana anterior. Foi na quinta-feira, quando fui com alguns amigos a um bar novo que estava sendo inaugurado. Quando chegamos o movimento já era intenso, mas como um amigo nosso conhece o proprietário, então ele havia reservado uma mesa para todo o grupo, mas faltava uma cadeira e quando fui pedir uma em outra mesa, onde estavam duas morenas que estavam sentadas, uma delas me olhou direto nos olhos que fiquei preso a esse olhar, quando um dos amigos me chamou e isso me trouxe a realidade, agradeci e fui para minha mesa. Meus amigos perceberam e disseram que minha noite já estava ganha. Ela ficou me paquerando o tempo todo, mas não sei porque a via como uma peça na vitrine, exposta para quem quisesse comprar, alugar ou sei lá. Ela era realmente muito bonita, chamava a atenção com seu bronzeado dos ombros a mostra, seus olhos cor de mel, era um por de sol naquele rosto maquiado. Mas que chato eu, pensava comigo, estava sendo o sorteado da noite, mas não estava com vontade de tirar o bilhete do bolso para reclamar o premio. Acabei levantando da mesa e fui embora mesmo antes dos amigos fecharem a conta. Que merda! Será que eu estava me sentindo arrependido por uma coisa que não me fez falta quando cheguei em casa? A rotina voltou rápida demais e com ela as 17:00 hs,. Saí rapidamente do estacionamento, queria voltar só, andar uns kilometros a mais pela rodovia. Hoje realmente eu estava de saco cheio e não via uma maneira de esvasiá-lo. O que nos leva a nos deixar assim? Tinha tudo a meu favor. Um ótimo emprego, bons amigos, apartamento quitado, carro do ano, sei lá viu.
l. blue..28/11/2009