Sobre o amor
                       de Ana e Joaquim


                                   (Natalina)

        Falo dos avós maternos de Jesus.
        De acordo com o seu calendário, os católicos saíram do Tempo Comum e entraram no Tempo do Advento.
        Inaugurado está, portanto, o Ano Litúrgico.
        No Advento - que vem do latim Adventus, chegada - a Igreja de Roma prepara-se, seguindo um ritual de completa alegria, para o Natal do Menino-Deus.
        Daqui a pouco, por conseguinte, é Natal.
        Por isso, crônicas, com ou sem colorido religioso, serão sempre bem-vindas. Bom seria que muita gente escrevesse, pelo menos uma página, sobre o nascimento do Messias.
        Ou abordasse fatos curiosos e esquecidos intimamente ligados a esse acontecimento bíblico, o maior de todos.
        Anatole France, por exemplo, escreveu um conto - incluído entre os melhores contos natalinos - sobre Baltasar, um dos três Reis Magos que estiveram em Belém adorando o Recém-nascido.
        A mídia, entretanto, e vale repisar, preocupa-se muito mais em divulgar onde vai ser o melhor Réveillon do século. E quando fala no Natal é para anunciar as ofertas das grandes lojas, todas de olho no décimo terceiro salário de consumidores obsessivos ou incautos.
        A mesma mídia cultiva, às vezes com condenável exagero, a figura do papai Noel, esquecendo de dizer pra meninada que, no Natal, o importante não é o bom velhinho, mas o Bambino, assim São Francisco de Assis chamava o Jesus Menino.
        E não se diga que escrever sobre o Natal é repetir o que, ao longo dos séculos, se vem lembrando, ou seja, o significado e a magnitude da Natividade divina.
        Não. Sobre o Natal ainda se tem muito o quê dizer, além daquela preocupação de levar ao homem embrutecido do terceiro milênio uma mensagem de paz, ternura e esperança.
        Chega de manchetes espetaculosas e de noticiário minando sangue. 
        E nem é preciso ser Teólogo para discorrer sobre o nascimento de Jesus. Escritores notáveis (alguns nem crentes eram!) produziram textos natalinos de inexcedível espiritualidade, respeito e beleza. 
        Cito, por exemplo, Coelho Neto, com o seu Mistério do Natal; Plínio Salgado, em Vida de Jesus; Charles Dickens, com sua Canção de Natal; e Giovanni Papini, linda página - O Estábulo - abrindo o seu História de Cristo.
       
Impressionou-me o que escreveu Papini sobre o local onde Jesus nasceu.
Leiam, por obséquio: "Jesus nasceu num Estábulo". E prossegue: "Este é o verdadeiro Estábulo onde Jesus veio ao mundo. O lugar mais sórdido da terra foi a primeira morada do único PURO nascido de uma mulher."
        E numa referência aos presépios modernos, comparando-o com o que o Messias nasceu, disse G. Papini, que aquele nada parecia com "o presépio de gesso que a fantasia dos fabricantes de estatuetas inventou nos tempos modernos - presépio asseado, de cores alegres, com mangedoura limpa e apurada, o burrico estático e o boi compungido, os anjos no teto com suas grinaldas ondulantes e as figurinhas de joelho de ambos os lados do alpendre."
        Deixando Papini de lado, relembre o leitor este poema de Manuel Bandeira - que acho lindo - intitulado Versos de Natal - "Espelho , amigo verdadeiro, / Tu refletes as minhas rugas, / Os meus cabelos brancos, / Os meus olhos míopes e casados. / Espelho, amigo verdadeiro, / Mestre do realismo exato e minuciosos, / Obrigado, obrigado!
        Mas se fosses mágico, / Penetraria até ao fundo desse homem triste, / Descobririas  o menino  que sustenta esse homem, / O menino que não quer morrer, / Que não morrerá senão comigo, / O menino que dos os anos na véspera do Natal/ Pensa ainda em pôr os seus chinelinhos atrás da porta." 
        E repito: para escrever sobre o natal não é necessário acreditar nos seus mistérios. 
        Ainda que nada tivesse acontecido na pequenina Belém, a doçura e profundidade espiritual que esta festa traduz, leva o homem a instantes de sérias reflexões... 
        Escrevamos, pois, sobre o natal; ou, como disse acima, sobre episódios ligados direta ou indiretamente ao nascimento do Bambino de Maria.
        Neste passo, minha crônica natalina - a primeira de uma série - é sobre o amor que uniu Joaquim a Ana, os avós maternos do Mestre. 
        Vasculhei os Evangelhos Canônicos a procura de como o amor os teria aproximado, numa união que resultou num fato de suma importância para os crentes.  Queria saber detalhes.
        Confesso, porém, que pouco eles me disseram a respeito; ou digamos, na minha santa ignorância, eu não soube encontrar. 
        Tive, então, que recorrer, mais uma vez, aos Evangelhos Apócrifos, alguns já aceitos pela Igreja de Roma, mas isso é assunto para outra crônica.
        Vou resumir, não se preocupe o meu dileto leitor.
        Joaquim, que morava em Jerusalém, era uma homem muito rico. Um cidadão "temente a Deus e excedia em piedade a todos seus contemporâneos".
        No Templo, suas oferendas eram sempre em dobro.E por isso, Deus o abençoava, fazendo crescer o seu patrimônio.
        E dizem os Apócrifos, que ao vinte anos ele tomou Ana por esposa. 
        O casal não tinha filho, até que Joaquim, subordinado às regras rígidas e esquisitas de sua época, foi censurado pelas autoridades religiosas, porque não havia, até então, gerado descendentes.
        Muito triste, Joaquim  refugiou-se, sem dizer nada a Ana, em uma "região semi-disértica onde pastavam seus rebanhos". E viveu cinco meses em completo isolamento.
        Sem ter notícias do esposo, Ana soluçava, ao mesmo tempo em que se queixava a Deus, dizendo que o Altissimo, além de lhe negar filhos, ainda lhe tirara o marido.
        De repente um anjo lhe apareceu. E lhe disse que Deus determinara que ela teria "um descendente, objeto de admiração por todos os séculos até o fim".
        No mesmo momento, nas montanhas, Joaquim era visitado por um jovem, que lhe fez esta pergunta: "Por que não voltas para o lado de tua esposa?"
        Depois de um longo papo com o jovem anjo, Joaquim "desmontou rapidamente sua tenda e se pôs a caminho de casa."
        Ana o recebeu com muito carinho e compreensão. E "naquela noite Joaquim repousou junto à sua mulher em casa". 
        Dias depois, "Ana notou os sinais típicos da gravidez."
        E logo um sacerdote profetizou: ..."tua prole será uma menina, uma virgem impecável e santa que será a mãe do rei de Israel."
        Ana teve uma gravidez tranquila. E no dia certo, deu à luz uma menina. 
        Quando se discutia qual o nome a ser dado à recém-nascida, eis que apareceu um anjo, sempre os anjos.
         Se dizendo mensageiro do Altíssimo, determinou que o nome da menina seria MARIA.  E asim teria nascido a Virgem, cujo casamento com o carpinteiro José poderá ser assusnto para um crônica em outros Natais.
        Neste Natal - 2009 -, fiquemos com a história do amor triunfante que uniu Joaquim a Ana, e do qual resultou no nascimento da Mãe de Jesus de Nazaré.
        Ave-Maria!  
    
                     

                           
Felipe Jucá
Enviado por Felipe Jucá em 28/11/2009
Reeditado em 28/11/2009
Código do texto: T1949052