Diário de um Poeta Triste
Hoje estou triste. A noite está nublada e ventosa. Passei por um período longo de prazer, de felicidade irradiada em minhas têmporas, no meu semblante. Devo ter demonstrado demais, e estes pobres senhores de espírito devem ter surrupiado meu sentimento e levado para a terra do nunca. Eis que abateu novamente a tristeza. Já andava com medo dela. Sabia que mais cedo ou mais tarde ela viria, com toda sua força e sua garra, devastadora. Voltei a ser poeta, pois a tristeza me traz as palavras que preciso para compor linhas fantasiadas, voltei a pigarrear um cigarro que mais fica aceso no cinzeiro e a beber doses e mais doses de destilados com gelo. E a insônia me veio antes, ela é a precursora de tudo e o tudo é muito ou quase nada que preciso. Mas nada desses modismos, essas depressões momentâneas. Minha tristeza é diferente. Ela é daquelas charmosas, românticas, que guardo dentro de mim e só pra mim. Não descarrego em ninguém e ninguém a leva. Somente a mim cabe controlá-la e solta-la e mandá-la para terras perdidas ou precipícios.
São vidas que se cruzam, sem razões e sem menções. São apenas vidas.