O Quiabo Comunista numa noite gelada
Uma vez, em Juiz de Fora, quando eu trabalhava na Gazeta Comercial e fazia faculdade de Psicologia, entrevistei o Carlos Eduardo Novaes, que estava lançando "O Quiabo Comunista".O Salvador, dono da livraria Península,que nessa época,ficava em uma das muitas galerias da cidade, ofereceria vinhos et queijos, na noite de autógrafos.
Estava um "gelo".A "Princesa de Minas" é úmida.No inverno,eu andava orvalhada,escrevi numa poesia.Mania de ser flor...
Saí de sala em sala,pedia licença aos professores e ia motivando os alunos a debandarem...Já havia entrevistado o escritor,na TV (Canal 10),no tempo dos tapes gravados com antecedência,e para o meu jornal, a Gazeta Comercial,onde mantinha a coluna diária Clevane Comenta e a página dominical Gente ,Letras e Artes,que fazia com Messias da Rocha,colega de redação,com quem depois casei-me e que mais tarde,foi o redator chefe de "A Tarde"...Convidava os universitários friorentos,mas os professores também ´pareciam interessados em conhecer o Novaes ou aquecer-se do terrível frio-e se não gostaram da minha interrupção,não reclamaram.
Foi debanda geral, no outro dia minha manchete era:Juiz de Fora vive sua maior noite de autógrafos...(ou algo assim)Rs...O Novaes ficou muito feliz e os estudante...felicíssimos, com o calor humano...o do vinho...a inteligência e o humor sutil do autor, etc...etc...etc
O Salvador(numa poesia ,escrevi para ele:Salvador não Dali,mas daqui...),um jovem inovador,comprara trocentos queijos,que ficavam empilhados em tábuas ou pratos,sobre mesas,mas não por muito tempo.Todo mundo ria e falava,bebia,comia...Um calor tomou conta dos corredores da Pro-Música,onde aconteceu o evento.Os livros,àquela época não tão caros quanto hoje,iam diminuindo das pilhas,rapidamente.
Meu eu repórter ficava atento a tudo.Como não bebo,parecia ser a única pessoa lúcida e tranqüila.Se me embriaguei um pouquinho foi quando,acompanhada do Salvador(as moças da época,ou eu,especialmente,ligavam para "as aparências",para a fofoca íntima,o "quem é que vai pensar o quê de quem"...),vi,pela primeira vez,no hotel onde se hospedava,o Carlos Eduardo Novaes ao vivo.Todo corado,cor-de-rosa vivo e com uns olhos azuis de causar inveja a qualquer gato de pêlo.A calvície somente fazia suas feições ficarem mais acentuadas.
Simpático,em nenhum momento esnobou a pessoazinha que eu era.Pelo contrário,disse que gostara muito de nossa conversa.
Mas lá na TV...O Salvador conseguira um miomento para gravarmos um "Tape"...Seria minha estréia nesse tipo de entrevista...O microfone vinha do alto e "pa(i)rava" sobre a pessoa.Eu não tinha a menor idéia do que fazer.Se puxava para perto ou falava normalmente.Ele percebeu e,delicadamente,puxou-o para si e começou a se apresentar.Daí para frente,tudo fluiu.
Foi meu batismo am canais de Tv.Hoje ,sinto-me em casa,para qualquer assunto.Mas hoje ,os microfones,pequeninos,ficam nas lapelas das roupas,ou passam por dentro da blusa,para se aninharem,camuflados,em algum lugar.É preciso cuidado para que não batam no pendentif da bijoux.Que não captem os batimentos cardíacos.Ou o ruído de uma barriga faminta.E só.
Quando passei uns tempos na Band em Belo Horizonte,nos altos da Av.Raja Gabaglia,um projeto arquitetônico lindo(parece que estamos perto do céu),eu fazia comentários sobre comportamento.
Saía "voando" de meu consultório,pagava um táxi para não atrasar,chegava ansiosa,corria com os âncoras, Fernanda e Paulo,para um banheiro de grande espelho,nós próprios nos maquiávamos e íamos para o estúdio.Algumas vezes,cheguei depois que eles já estavam sentados.Então,andava na ponta dospés,para não fazer o menor barulho.Ou tirava os sapatos de salto e deslizava até uma cadeira,onde ficava à espera de minha vez.Em geral,eu falava após o Rodrigo,o presidente do PROCON/Bh.Eles tascavam uma notícia e eu tinha um tempo "x" para responder."Dra Clevane,começavam,a sra acha que"..."Eu respondia "na lata".Depois,ele passou a ser depois de mim,e eu podia descer de carona.
Na maioria das vezes,não sabia o que iriam me perguntar.Eles e a diretora do Jornal,Kátia,sempre simpática,gostavam de minhas respostas breves, elogiavam meu timing "perfeito".Isso devia à minha experiência de psicóloga.Tudo arquivadinho na cabeça.Mas fiquei lá três meses e resolvi sair.Apesar da turma tratar-me na palma da mão.Até então,eu não recebera nada,de pagamento.Aí fui convidada a conseguir ,eu mesma,um patrocinador para,então,me pagarem .Fiquei perplexa.Fôra lá a convite.
Não sei como encontraria tempo,pois trabalhava em um hospital-e quando saía da Band para meu consultório,muitas vezes o paciente,tendo chegado mais cedo,achava que eu não iria e partia.
Na verdade,eu estava pagando para trabalhar.Tive de comprar casaquetes com lapelas,para evitar ficar com partes desnudas,a fim de que o microfonezinho se aninhasse devidamente:acabava de falar e tinha de sair,pois o comentaristade futebol entrava.
E eu com fome.Na Band havia uma lanchonete,mas eu não tinha tempo de parar.Corria para pegar uma carona com o Rodrigo do Procon,que me deixava pertinho do consultório.Passava e via os jornalistas comendo,cheirinho bom de comida no ar...E a barriga roncando.Já no consultório,pedia à nossa secretáia que fosse comprar um lanchinho.Um dia ,acordei.Eu gostava de analisar comportamentos humanos,mas não tinha a menor vaidade de estar na Tv. Na verdade,gostava era de ser entevistada,em programas tipo sala-de-visita,como no canal 30(no programa "Espaço Aberto",conduzido pela eficiente Clausi,veterana,desde a Tv Alterosa,das apresentadoras mineiras),onde estava sempre sendo convidada para falar de sexualidade,adolescência,infância,casais,idosos,do tamagoshi ao preservativo feminino.Quando andei pela Band/Bh,nem precisava do marketing indireto,pois tinha pacientes além do que podia atender.
Mas fui incapaz de reclamar:aproveitei um pique de pressão em alta em meu marido e disse-lhes que não seria mais possível continuar.
Expliquei que tinha de sair.Na verdade,aproveitei a situação,cansada de correr pela Raja,sempre com seu trânsito puxado,atrás de táxis,e...com fome...Era impossível almoçar antes.
Mas toda vez que eu sorría para a câmara e falava no meu tom normal de voz,lembrava da entrevista no canal 10,em Juiz de Fora,nos velhos tempos da Tv...E mentalmente,agradecia a Carlos Eduardo Novaes,que ,discretamente,não me deixou pagar nenhum mico:Boa tarde,sou Carlos Eduardo Novaes e estou em Juiz de fora para...et blá-blá-bl...No tempo em que passou na cidade, em nenhum momento,o vi perder as estribeiras ou zombar de alguma coisa.
Na verdade,ele ficara felicíssimo.Depois enviei-lhe o jornal(não,Internet não havia,era tudo via Correios mesmo),onde a manchete,repito,dizia:Juiz deFora vive sua maior noite de autógrafos.E até hoje,sinto o frio que virou calor ao sabor do vinho e dos queijos...
Belo Horizonte,15/07/2006,véspera de aniversário,pessoal e intranferível,noite fria,o belô acontecendo e eu dentro de casa,em frente ao PC,com a TV ligada,depois de ilustrar meu novo livro infantil...
Obs:foto dos Anos Setenta...
Uma vez, em Juiz de Fora, quando eu trabalhava na Gazeta Comercial e fazia faculdade de Psicologia, entrevistei o Carlos Eduardo Novaes, que estava lançando "O Quiabo Comunista".O Salvador, dono da livraria Península,que nessa época,ficava em uma das muitas galerias da cidade, ofereceria vinhos et queijos, na noite de autógrafos.
Estava um "gelo".A "Princesa de Minas" é úmida.No inverno,eu andava orvalhada,escrevi numa poesia.Mania de ser flor...
Saí de sala em sala,pedia licença aos professores e ia motivando os alunos a debandarem...Já havia entrevistado o escritor,na TV (Canal 10),no tempo dos tapes gravados com antecedência,e para o meu jornal, a Gazeta Comercial,onde mantinha a coluna diária Clevane Comenta e a página dominical Gente ,Letras e Artes,que fazia com Messias da Rocha,colega de redação,com quem depois casei-me e que mais tarde,foi o redator chefe de "A Tarde"...Convidava os universitários friorentos,mas os professores também ´pareciam interessados em conhecer o Novaes ou aquecer-se do terrível frio-e se não gostaram da minha interrupção,não reclamaram.
Foi debanda geral, no outro dia minha manchete era:Juiz de Fora vive sua maior noite de autógrafos...(ou algo assim)Rs...O Novaes ficou muito feliz e os estudante...felicíssimos, com o calor humano...o do vinho...a inteligência e o humor sutil do autor, etc...etc...etc
O Salvador(numa poesia ,escrevi para ele:Salvador não Dali,mas daqui...),um jovem inovador,comprara trocentos queijos,que ficavam empilhados em tábuas ou pratos,sobre mesas,mas não por muito tempo.Todo mundo ria e falava,bebia,comia...Um calor tomou conta dos corredores da Pro-Música,onde aconteceu o evento.Os livros,àquela época não tão caros quanto hoje,iam diminuindo das pilhas,rapidamente.
Meu eu repórter ficava atento a tudo.Como não bebo,parecia ser a única pessoa lúcida e tranqüila.Se me embriaguei um pouquinho foi quando,acompanhada do Salvador(as moças da época,ou eu,especialmente,ligavam para "as aparências",para a fofoca íntima,o "quem é que vai pensar o quê de quem"...),vi,pela primeira vez,no hotel onde se hospedava,o Carlos Eduardo Novaes ao vivo.Todo corado,cor-de-rosa vivo e com uns olhos azuis de causar inveja a qualquer gato de pêlo.A calvície somente fazia suas feições ficarem mais acentuadas.
Simpático,em nenhum momento esnobou a pessoazinha que eu era.Pelo contrário,disse que gostara muito de nossa conversa.
Mas lá na TV...O Salvador conseguira um miomento para gravarmos um "Tape"...Seria minha estréia nesse tipo de entrevista...O microfone vinha do alto e "pa(i)rava" sobre a pessoa.Eu não tinha a menor idéia do que fazer.Se puxava para perto ou falava normalmente.Ele percebeu e,delicadamente,puxou-o para si e começou a se apresentar.Daí para frente,tudo fluiu.
Foi meu batismo am canais de Tv.Hoje ,sinto-me em casa,para qualquer assunto.Mas hoje ,os microfones,pequeninos,ficam nas lapelas das roupas,ou passam por dentro da blusa,para se aninharem,camuflados,em algum lugar.É preciso cuidado para que não batam no pendentif da bijoux.Que não captem os batimentos cardíacos.Ou o ruído de uma barriga faminta.E só.
Quando passei uns tempos na Band em Belo Horizonte,nos altos da Av.Raja Gabaglia,um projeto arquitetônico lindo(parece que estamos perto do céu),eu fazia comentários sobre comportamento.
Saía "voando" de meu consultório,pagava um táxi para não atrasar,chegava ansiosa,corria com os âncoras, Fernanda e Paulo,para um banheiro de grande espelho,nós próprios nos maquiávamos e íamos para o estúdio.Algumas vezes,cheguei depois que eles já estavam sentados.Então,andava na ponta dospés,para não fazer o menor barulho.Ou tirava os sapatos de salto e deslizava até uma cadeira,onde ficava à espera de minha vez.Em geral,eu falava após o Rodrigo,o presidente do PROCON/Bh.Eles tascavam uma notícia e eu tinha um tempo "x" para responder."Dra Clevane,começavam,a sra acha que"..."Eu respondia "na lata".Depois,ele passou a ser depois de mim,e eu podia descer de carona.
Na maioria das vezes,não sabia o que iriam me perguntar.Eles e a diretora do Jornal,Kátia,sempre simpática,gostavam de minhas respostas breves, elogiavam meu timing "perfeito".Isso devia à minha experiência de psicóloga.Tudo arquivadinho na cabeça.Mas fiquei lá três meses e resolvi sair.Apesar da turma tratar-me na palma da mão.Até então,eu não recebera nada,de pagamento.Aí fui convidada a conseguir ,eu mesma,um patrocinador para,então,me pagarem .Fiquei perplexa.Fôra lá a convite.
Não sei como encontraria tempo,pois trabalhava em um hospital-e quando saía da Band para meu consultório,muitas vezes o paciente,tendo chegado mais cedo,achava que eu não iria e partia.
Na verdade,eu estava pagando para trabalhar.Tive de comprar casaquetes com lapelas,para evitar ficar com partes desnudas,a fim de que o microfonezinho se aninhasse devidamente:acabava de falar e tinha de sair,pois o comentaristade futebol entrava.
E eu com fome.Na Band havia uma lanchonete,mas eu não tinha tempo de parar.Corria para pegar uma carona com o Rodrigo do Procon,que me deixava pertinho do consultório.Passava e via os jornalistas comendo,cheirinho bom de comida no ar...E a barriga roncando.Já no consultório,pedia à nossa secretáia que fosse comprar um lanchinho.Um dia ,acordei.Eu gostava de analisar comportamentos humanos,mas não tinha a menor vaidade de estar na Tv. Na verdade,gostava era de ser entevistada,em programas tipo sala-de-visita,como no canal 30(no programa "Espaço Aberto",conduzido pela eficiente Clausi,veterana,desde a Tv Alterosa,das apresentadoras mineiras),onde estava sempre sendo convidada para falar de sexualidade,adolescência,infância,casais,idosos,do tamagoshi ao preservativo feminino.Quando andei pela Band/Bh,nem precisava do marketing indireto,pois tinha pacientes além do que podia atender.
Mas fui incapaz de reclamar:aproveitei um pique de pressão em alta em meu marido e disse-lhes que não seria mais possível continuar.
Expliquei que tinha de sair.Na verdade,aproveitei a situação,cansada de correr pela Raja,sempre com seu trânsito puxado,atrás de táxis,e...com fome...Era impossível almoçar antes.
Mas toda vez que eu sorría para a câmara e falava no meu tom normal de voz,lembrava da entrevista no canal 10,em Juiz de Fora,nos velhos tempos da Tv...E mentalmente,agradecia a Carlos Eduardo Novaes,que ,discretamente,não me deixou pagar nenhum mico:Boa tarde,sou Carlos Eduardo Novaes e estou em Juiz de fora para...et blá-blá-bl...No tempo em que passou na cidade, em nenhum momento,o vi perder as estribeiras ou zombar de alguma coisa.
Na verdade,ele ficara felicíssimo.Depois enviei-lhe o jornal(não,Internet não havia,era tudo via Correios mesmo),onde a manchete,repito,dizia:Juiz deFora vive sua maior noite de autógrafos.E até hoje,sinto o frio que virou calor ao sabor do vinho e dos queijos...
Belo Horizonte,15/07/2006,véspera de aniversário,pessoal e intranferível,noite fria,o belô acontecendo e eu dentro de casa,em frente ao PC,com a TV ligada,depois de ilustrar meu novo livro infantil...
Obs:foto dos Anos Setenta...