A DOR

A dor

Tenho medo da dor. Da dor incólume dos que procuram o prazer. Da dor doída dos que abandonam. Da dor maior dos indefesos. Da dor estúpida dos perdidos e humilhados. Tenho medo sim, da dor. Não da dor física, somente, mas da dor da alma, esta que dilacera e corrói o espirito, que diminui o homem e institui o animal. Um animal que pode ser frágil, manso, passivo ou violento, inóspito, hostil. Um animal que luta, que esbraveja, que se vinga. Ou um animal que acolhe sem suplica o que a vida lhe dá, resgatando apenas o sentido da falta de sentido. O viver da não vida, o quase zumbi do ser. Pudera quem sabe fugir da dor e assim, covardemente anunciar ao mundo uma vitoria inglória de quem não vence, mas finge. Uma vitoria insossa de quem permanece vivo, mas não vive. Quem sabe pudera enfrentar a dor e abrir as entranhas, e mesmo morrendo deixar entrar a luz da esperança. Uma esperança acolhida e amada, mergulhada no insofismável perecer. Se perecer é dor, melhor escolher outra saída. Quem sabe enfrentar sem dor. Viver apenas. Mas viver com a dor mastigada, alimentada, produzida, sem temor. Apenas vivê-la, como se respira, assim, suavemente, naturalmente. Sem luta, sem grandiloquência, sem vitorias ou derrotas. Só viver. E viver é dor também.

Gilson Borges Corrêa
Enviado por Gilson Borges Corrêa em 28/11/2009
Código do texto: T1948380
Classificação de conteúdo: seguro