HISTÓRIAS DE PESCADOR - II

Lá vem o Gondebaldo de novo, aquele meu amigo pescador, mentiroso que nem bula de remédio. Lembram dele, né? Pois é, o cara agora me veio com uma historia cabeluda, de conteúdo duvidoso, mas deixo a critério dos meus leitores o julgamento quanto à sua veracidade (ou não).

Disse ele que, há algum tempo atrás, pescava muito na Lagoa da Pampulha, sempre na companhia do filho adolescente Juliano (hoje, quase um doutor), seu companheiro inseparável das pescarias e banhos de minhoca.

Chegavam cedo num local pouco freqüentado pela turma do anzol, num trecho da lagoa onde as águas avançavam em direção à Avenida Otacílio Negrão de Lima, circundando umas moitas repletas de juncos, formando um pequeno remanso. O lugar era bom de traíras, segundo o Gonda, e ele mais o filho Juliano sempre se davam bem naquele canto.

Pois nesse dia se abancaram, jogaram sua tralha na grama, debaixo duma castanheira e, varas em punho, se dirigiram pra beira do lago, no local do remanso, onde costumavam fisgar suas traíras. O Gonda deu sua bicada costumeira na garrafa de “Boazinha” que levava no embornal e jogou sua linha com anzol e minhoca n’água, botando fé no sucesso daquela pescaria.

A vara era compridona, mas a favorita do Gonda. Segurava-a com firmeza, olhos fixos na linha observando o mais leve movimento, num silêncio absoluto. A poucos metros dele o Juliano fazia o mesmo, vez ou outra buscando o pai com um olhar meio aborrecido, pois nem um beliscãozinho ou outro a sua linha acusava. Ficava era paradinha, paradinha ...

Já no anzol do Gondebaldo uma traíra das grandes andou beliscando, tanto que comeu duas vezes sua isca sem que o nosso pescador notasse! “- Peixe escolado esse”, pensou o Gondebaldo. “- Mas, deixa estar. Eu pego ele! ...”

Foi aí que apareceu de repente um “tiziu”, aquele passarinho preto, miudinho, que quando canta dá um vôozinho pro alto, canta “tiziu, tiziu ...”, e caiu num pouso certeiro na vara, sabem? Pois é, esse passarinho começou a bulir com os nervos do Gondebaldo.

Nessa altura, a traíra já se mostrava mais atrevida, rodeava o anzol e até mostrou o cabeção no espelho d’água, deixando o nosso pescador todo ouriçado. Mas o “tiziu” insistia na cantoria e nos pulinhos na vara, atrapalhando a concentração do Gonda, o qual pensou lá com seus botões:-

“- Só tem um jeito pra esse danado do “tiziu” ! E é comigo mesmo! Ele vai ver!”

O Gonda se ajeitou um pouco mais à frente, abriu bem as pernas, segurou firme a vara, um olho na traíra e outro no passarinho ... e esperou. Quando o “tiziu” cantou e deu seu vôozinho pro alto ( “tiziu, tiziu” ...), o Gonda puxou pra direita justo na hora em que o bichinho vinda voltando pra pousar na vara! Foi a conta, o “tiziu” caiu n’água, a traíra veio de lá com o bocão aberto e “crau” ... , engoliu de vez o passarinho! ...

-o-o-o-o-o-

B.Hte., 27/11/09

RobertoRego
Enviado por RobertoRego em 28/11/2009
Reeditado em 28/11/2009
Código do texto: T1948254
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