3.425 anos depois
Depois de uma longa ausência, mais precisamente 3.425 anos, estou de volta no planeta Terra. Confesso que estou meio abestalhado com tudo que vejo por aquí. Quando desencarnei pela última vez morava ao lado do grande rio Nilo no que hoje é chamado de Egito. Minha tribo vivia pacificamente a mais de mil anos naquelas paragens. Plantáva-mos nossa própria comida; a pesca era farta e nossa existência transcorria suave como as própias àguas do rio que nos alimentava e protegia. Hoje está tudo mudado; não existe mais tribos às margens do Nilo, o que existe são cidades enormes que desafiam as areias do deserto não conhecendo limites para seus crescimentos desenfreados. Da tribo de antigamente nada restou, nem mesmo lembranças daqueles que por lá hoje habitam. Apenas eu, vagando perdido por entre ruas calçadas com pedras côr de chumbo, busco na memória de vidas passadas os momentos mais felizes já vividos. Não que hoje não seja feliz… Não! Não é isso!, é que é uma felicidade diferente aquela daquela época; uma felicidade mais concreta, mais substancial, quase palpável. A felicidade de hoje é abstrata, indelével, fulgáz, quase que fugidia, mas não deixa de ser felicidade. Apesar de ser uma felicidade que vive com medo de se perder nos rios de infelicidade que correm soltos por aí. Mas assim é a vida… Vai saber o que vou encontrar quando voltar daqui mais uns 3.000 anos. Espero que toda essa correria já tenha então passado, e que nós seres humanos do terceiro planeta já tenhamos aprendido o que sabíamos e que foi perdido no transcorrer das eras. Que a existência volte a ser suave e bela como já foi um dia… E que todos possamos finalmente então dizer: “O Deus que habita em mim saúda o Deus que habita em tí”.