Sobre o ato de escrever
Tantos já falaram sobre a atividade da escrita e eu mesmo muito já declarei sobre o ato de escrever. Tudo parece que já foi dito e certamente eu não tive nada a acrescentar que merecesse algum destaque e não há indícios que isso possa mudar. De qualquer forma, continuo me arriscando.
As palavras estão disponíveis a todos que as busquem; basta ordená-las de forma tal que possam ser decifradas por quem lê. As idéias fundamentais já estão sendo propagadas há tempos por muitos sábios ao longo das eras; basta selecioná-las e novamente expô-las.
O que resta então a quem escreve? Aprimorar-se no uso correto das palavras e procurar pinçar as melhores idéias? Apesar de poucos terem real habilidade e efetivo domínio técnico, mesmo que assim se concretize, colocar isso em prática parece pouco, muito pouco!
Deveria ser óbvio que não há dois seres idênticos no universo; cada um é único e, portanto, inevitavelmente especial. O que torna qualquer coisa que algum ser produza original é sua capacidade de experimentar a vida e depois dizer como isso lhe pareceu, exteriorizando traços da própria alma que lhe confere tal singularidade.
Todavia, pode ser frustrante absorver as reações de quem se dispõe a ler o que é escrito. O leitor talvez seja tão limitado que não consiga identificar as qualidades inerentes ao que foi exposto. De outra forma, talvez ele seja tão mais sábio que o escritor que não possa evitar de notar a mediocridade de um texto.
Ocorre que todos nós nos consideramos mais espertos do que muitos e procuramos esconder que nos sentimos idiotas perante outros tantos. É da vida que as diferenças entre os seres os coloquem nessas ilusórias classificações. Tudo é relativo e passageiro e, arredondando os níveis dessa escala, estamos praticamente ombro a ombro todos nós, sem exceção.
O que interessa é que nada do que seja escrito possa prescindir que exista alguém que esteja disposto a ler. Compreendendo ou não, concordando ou não, gostando ou não, o leitor é que dá vida ao texto e não o escritor, já que é a leitura que dá sentido à existência do que foi escrito, caso contrário, seriam só símbolos grafados no vazio. E mesmo quem escreve para si, numa atividade hipoteticamente solitária, também é obrigado a ler o que escreveu.
Portanto, aprimorar a escrita depende essencialmente de praticar a leitura. Essa é uma relação de estímulo mútuo em que leitor e escritor são ambos mestres e aprendizes uns dos outros.
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