Trovoadas de verão
Precisamos sublimar o adeus irregenerável. Mergulhar na brilhante fantasia. Desenhar um cisne no lago podre. Alimentá-lo para sentir o vento que ladeia o corpo. Empurrar a alma dolorida para dentro do relâmpago exato. Tirar do amor às tolices e grosserias que desabam contra a chuva grossa. Nessas conjunturas do abandono há muita erosão desabando no assoalho imundo.
O fim do amor é como um cisne no lago podre. São poucas sensações no mesmo mundo sem promessa. As chaves do prazer estão guardadas no lugar mais alto do armário de tábuas largas. O cisne espavorido voa com desespero durante a trovoada de verão.
O adeus prolonga a melancolia.
Do amor, essa maneira de dizer, passear um pouco sem memória é fácil recolher do tédio outra emoção sem posses que nunca se estabelece. Para fingir como agia nos dias úteis nos cigarros de maconha suavizando a roupa suja entre o cheiro de querosene do mendigo novo no abandono. Sem Cristo nem Quaresma. O desamparo do amor é um imprevisível sopapo na cara da afeição.
É impossível socorrer o adeus com televisão ou sonho. Resta a imagem do cisne contra o céu após um breve descanso no lago imundo.
Cisne fugindo das trovoadas de verão. O fim do amor é como um cisne no lago podre.