UMA VISITA IMPORTANTE = EC
Eu era recém casada, ainda em clima de lua de mel, quando recebemos a visita do Chefão do meu marido.
Nós morávamos em uma pitoresca cidadezinha turística e o “Homem” que morava na Capital quis conhecer nossas belezas naturais.
Meu marido jura que não convidou, mas deve ter oferecido vagamente a nossa casa para quando ele viesse conhecer o vilarejo, achando que ele nunca viria.
Mas veio! Ele, a esposa e dois garotos.
Como não tínhamos quarto de hospedes, demos o nosso quarto para o casal e improvisamos camas para os meninos nos sofás da sala.
Meu marido e eu não tivemos outra alternativa que não fosse nos acomodarmos na edícula, num quartinho minúsculo destinado à empregada.
Todos os dias saíamos para mostrar a eles as belezas que estávamos fartos de conhecer, o rio, a ponte, a cachoeira, a gruta, o escambal!
Eu não tinha a mínima afinidade com aquela mulher desconhecida, muito mais velha do que eu, com interesses e valores muito diferentes dos meus, mas tinha que acompanhá-los e tentar ser gentil, pois sou mais ou menos educada.
Voltávamos cansados das andanças, eles iam tomar o seu banho e descansar na rede, enquanto eu preparava o jantar.
Naquela época não havia, pelo menos na nossa cidade, nada de comida comprada pronta ou semi- pronta.
Tudo era feito na unha, literalmente.
O frango era matado em casa, depenado na água quente, estripado... .
O peixe chegava ainda quase vivo e a gente tinha que escamá-lo, abrir...
Fingi que não ouvi quando o garoto disse:
- Tõ com fome!
Mas meu marido ouviu e entreabrindo a porta da cozinha me pediu naquela sua vózinha no. 2 (a que ele usava quando queria me convencer a fazer algo que eu não queria fazer):
- Querida! Arranje uns petiscos para a gente ir comendo enquanto esperamos o jantar.
Fechou logo a porta, talvez com medo que eu lhe atirasse uma panela na cara e só retornou minutos depois para pegar a bandeja com os queijinhos, salaminhos, etc.
À noite, depois que eles, enfim, resolviam ir dormir, nos enfiávamos no nosso muquifo para tentar descansar.
Ele estava irritado, não morria de amores pelo chefe. Aturar no horário do expediente já era demais, imagine só, dentro de nossa casa vinte e quatro horas por dia!
Estava em ponto de explodir e ao menor cutucão explodia mesmo, imaginem em cima de quem!
Eu também estava no meu limite de paciência e ao menor empurrão desandava em cima dele, é claro.
Mas como tudo tem fim, nossos hospedes depois de vários dias resolveram despedir-se.
Ufa!
Mal viraram as costas meu marido saiu para o trabalho, dizendo que não vinha almoçar, que seu serviço estava muito atrasado, pois o Chefe estava de férias, mas ele não.
Furiosamente juntei toda roupa de cama usada, enfiei na máquina de lavar, arrastei o colchão para perto da janela para tomar sol, já pensando em arrumar nossa cama com todo capricho e preparar para mim e meu marido uma noite “daquelas”.
Depois comecei uma faxina pra valer, pois com as visitas em casa não pudera arrumar nada direito.
Mas, quando estava no auge da limpeza, as cadeiras arriadas, o chão ensaboado, ouvi um barulhinho no portão e... Eu não queria acreditar no que via!
Lá estavam meus hóspedes, com os filhos, as malas, mochilas, frasqueiras e bolsas.
- O carro quebrou logo na saída da cidade! Ainda bem que ainda estávamos perto e não foi difícil conseguir um reboque que nos trouxesse até aqui.
A madame sorriu:
- Vocês vão ter que agüentar-nos mais uns dias...
- Será um prazer!
Vocês devem estar me achando fingida, mal educada e pouco hospitaleira, mas, poxa!
POR ESTA EU NÃO ESPERAVA!
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O carro enorme, confortável, ultimo ano, desliza rapidamente pela estrada.
Seus ocupantes conversam:
Ela: - Até que enfim! Não agüentava mais comer frango e peixe!
Ele: - Eu até que gostei, para variar... A menina cozinha bem! O frango a cabidela estava muito bom e o peixe recém tirado do rio tem um gosto especial!
Ela: - Mas ela não sabe compor um cardápio. Faz muitas frituras. Acho que engordei uns cinco quilos.
Ele – Pior que isso era aquele colchão deles! Deixou-me com dor nas costas!
Ela: - E as crianças então, dormindo naqueles sofás desconfortáveis!
Ele:- Sabe que eu acho que para eles até é bom, conhecer um pouco da vida. Dar valor para sua casa, sua cama...
- Hiii! Estou sentindo um cheirinho de queimado.
- Pah!
O carro parou e não houve quem conseguisse fazer andar de novo.
Precisaram chamar um reboque e levá-lo para a oficina.
Ele e ela a uma voz:
POR ESTA EU NÃO ESPERAVA!
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Este texto faz parte do Exercício Criativo - Por Esta Eu Não Esperava.
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