COISAS INÚTEIS / 04
"Tudo bem?" _ Esse termo expressa tudo, menos a preocupação de quem pergunta. Ao falarmos "Tudo bem?" , o que esperamos afinal? Que o outro responda "Tudo bem!". Mas, e se não está "tudo bem", será que o outro vai ter tempo e paciência de escutar o nosso "tudo mal", "as coisas não estão nada boas", "estou na pior" e toda a explicação que se segue?
Portanto concluo que o "Tudo bem?" é apenas uma pró-forma, um termo educado, uma expressão incorporada ao nosso palavreado e que não quer dizer nada. Na maioria das vezes, o outro nem liga para o que vamos responder. Até porque só perguntou por costume e nem interessado está no nosso estado de espírito, nas nossas dificuldades.
E a gente, cheio de problemas, bestamente ainda responde "Tudo bem." Tudo bem o que? A saúde que está abalada, o estress que está quase me fazendo esganar quem perguntou, o dinheiro que está curto, a conta atrasada, a raiva da roubalheira que grassa a política brasileira, o caos na saúde, na educação, na segurança. Tudo bem... o dinheiro dos cofres públicos viajando pelos paraísos fiscais, o Presidente viajando pelos paraísos terrestres e só os anjos viajando no paraíso celestial.
Acho que um "olá" ou "oi" (que não é a operadora) já está de bom tamanho. Porque um simples "oi" não exige a explicação que nós gostaríamos e até precisaríamos dar para um "Tudo bem?".
Se estou com vontade de chutar o balde, como vou responder "Tudo bem!!!". Meus nervos estão à flor da pele, minha pressão a mil, minha úlcera incomoda, o trabalho me estressa e, bestamente, eu respondo "Tudo bem".
Tudo bem o que? Posso perguntar ao perguntador. Ou "por que tu perguntas tudo bem"? Se me conheces e sabes que nada está bem. Ou se pouco me conheces, porque essa curiosidade em saber da minha vida?
Mas, a educação ou o "adestramento" que vem de longa data, faz esse tipo de pergunta. E nós "amestradamente" respondemos. Com uma vontade enorme de debulhar um rosário de contas e fazer o bisbilhoteiro, o desinteressado, perder horas a fio a nos ouvir.
Não quero parecer mal educada; sei que é costume consuetudinário (aquele que não existe em lei escrita, como na Inglaterra, e que passa de geração para geração), mas acho uma grande inutilidade. Não serve para nada. Não leva a nada. Não acrescenta nada.
Um simples alô, oi, bom dia, resolve de forma educada e rápida. Portanto, continuo com o "olá", o "oi", o "bom dia" e...
"Boa noite" para todos os meus queridos amigos recantistas.