Família

Família.

O primeiro passa é admitir que vc não sabe bost* nenhuma...

Sair de casa entendendo que sempre haverá alguma coisa a aprender. Se abrir para o mundo e suas oportunidades... Não se engane, sempre haverá alguém para substituir você. Essa é uma das poucas certezas que você pode ter.

Hoje revisei o conceito família.

Umas das coisas mais dificeis em pediatria é atender a criança com o pai.

O pai sempre é complicado. Sempre têm dificuldade em lembrar dos detalhes. E os detalhes são muito importantes.

A mãe sabe explicar exatamente a cor, a textura, a consitência, a quantidade e a frequencia do cocô do filho.

O pai entende que é apenas cocô, o filho faz e já está de bom tamanho.

Quando vemos a criança com o pai, já nos preparamos, vai faltar muitos detalhes das informções.

Hoje atendemos essa criança, um garoto com um clássico tênis do "ben 10", cinco anos de idade e prolixo. Ele veio acompanhado do pai. Confesso que já respirei fundo. Mas tudo bem, era só um retorno, muitas das informações já deveriam estar na pasta.

O pai, tinha um problema para andar, o fazia com ajuda de um apoio e ficou ali em pé, timido, recostado à parede, e por mais que nos esforçassemos ele se recusou à sentar. Era compreensivo, porque iriamos ver a dificuldade que ele teria e isso o deixaria vulnerável. Coisa que ele não queria transparecer.

Era um homem muito simples, com boa postura e orgulhoso por ser quem era. Parecia que ele sabia exatamente isso.

Foi uma das minhas primeiras lições, somos nós quem dizemos quem somos. Não vem do meio. Vem da gente. E é tão raro a gente saber disso. Mas ele, sabia.

E então a consulta começou, e ele sabia explicar tudo. Não vou dizer que não existiram outros pais tão atenciosos, mas são raros.

Bem atento aos comentários e orientações, bem humorado, com toda sua simplicidade, demosntrou que era um bom pai.

Explicamos tudo que era necessário, nos apaixonamos pelo garoto e todo seu conhecimento pelos monstros do "ben 10".

No fim, descobrimos que o garoto era adotado. O pai, o encontrara abandonado pelas ruas, o levou para casa, ofereceu um lar e mudou o nome dele.

Na hora foi só uma história bonita, raras de se ver.

Mas agora, cheia de inspiração, aprendi mais uma coisa. Ou reforcei o aprendizado.

A família.

Aqueles que a gente escolhe sim, amar. Não o acaso.

Aquele homem, deficiente, com todas as suas limitações, que com certeza não sei detalhar, abriu seu coração e sua casa para receber um estranho e construir uma família.

Não havia cor, errado, diferente, dificuldades, limitações, ofensas, que poderiam interferir.

Havia amor.

Quando nos apaixonamos, escolhemos alguém para construir uma família. Quando a mulher está gerando o filho, todos ESCOLHEM amar aquele novo integrante.

Quando fazemos novas amizades, escolhemos.

Não é diferente da adoção.

Família, a gente escolhe.

Ou pelo menos, decide se ama ou não.

Então, é assim, você tem esses bonecos brancos, carecas e sem graça.

Você pode escolher passar o resto da vida reclamando, porque seus bonecos são feios e defeituosos, enquanto os do seu vizinho são bonitos, azuis e cabeludos.

Ou, você pode pintá-los. Aumentá-los. Vesti-los. Comprar uma peruca. Desenhá-los com lápis de cor.

E amá-los.