O mundo é completo, Marília
... Uma luta para ser expressivo. De novo vem à certeza de tudo. Ponho a mão sobre o papel e escrevo ao mundo ignorado por Marília. Atravesso a praça do mundo que lê, mas não compreende. Mundo que escreve, mas não decifra. Só Marília conserva simples as frases boas, dos bons. Conversa com muitos, ao longe, feito destinos opostos, andando, correndo, brincando.
Leio Marília sem lhe pedir nada. Sem saber como convém cada um para o seu lado em cada texto sentido. No entanto precisava verificar cada linha, cada sílaba, cada letra até o cair da noite. Leio Marília nos olhos já crescida. Corro por dentro da imaginação e conheço Marília que jamais vi. Nunca senti.
Pelos fundos da casa chove. Marília brinca com barcos na praia que se forma em azul. Quer barulho, correria, poema lido na pedra grande. Depois tudo se apaga. Definitivamente os maus textos não se firmam na memória. Fogem dos lugares onde nunca andei, para ter certeza de que não temos nenhum passado. Envelhecemos, não há dúvida. Envelhecemos no mundo completo e arbitrário, feito de gente boa e ruim. O melhor é não pensar. Reduzir certa vontade de ter preferência, principalmente sem sonhos na suavidade serena dos escritos de Marília, em algum verso feliz. Toda felicidade de Marília conta lugares, ri de invenções corta o ar enquanto durmo. E sonho entre porções de imagens. De onde criamos nossa razão de ser sem melancolia, após toda leitura das horas esquecidas.