A BICICLETA DO JOÃO DA COBRA
Por volta de 1970, pôde o meu dileto amigo Nobre trabalhar na cidade paraibana de Cuité, localizada numa serra de mais de 700 metros acima do nível do mar, que proporciona um clima maravilhoso e nem faz lembrar os dias quentes, tórridos de quase todo o nordeste brasileiro.
Dias há em que, pela madrugada, não se vê o outro lado da rua, em face da neblina. No inverno, então é um friozinho maravilhoso, razão de nascer tanta criança na cidade.
No Banco do Brasil o Nobre era um verdadeiro raio, não parava. Sua carteira agrícola vivia cheia de “matutos” – agricultores, claro --, em busca do precioso crédito rural para suas lavouras de algodão, milho, feijão, mandioca e até mesmo de sisal – extração primária das fibras, que são muito utilizadas na fabricação de tapetes, cordas, sacos e uma gama de produtos de utilidade doméstica e até mesmo industrial. É o mesmo agave, são sinônimos. Muita gente o confunde com abacaxi, e até parece mesmo!
Aos poucos se ia conhecendo a clientela, decorando até seus apelidos, muitas vezes o próprio nome. O Frazão, que era o ajudante-de-serviço do setor agrícola, pessoa de bom conceito, inteligente e dedicado extremamente aos serviços, tinha ainda o dom de ser brincalhão, de contar algumas anedotas, certamente que aprendia quando tomava sua “carraspana” em dias de folga.
Mas aqui não se trata de anedota, mas fato verídico. Havia um cliente, pobre, mas dos bons, que morava na sua propriedade, localizada bem no início da subida da serra, íngreme e não asfaltada. Costumava chegar cedinho ao banco, a fim de receber uma ficha que garantisse seu atendimento mais rápido. Naquele tempo era na base da ficha, não havia outra maneira, pelo menos não se sabia. Aliás, já seria um processo bem adiantado, porque hoje em dia ainda vemos essas práticas nas mais prósperas empresas do país.
Pois bem, quando o banco abriu às sete horas da manhã lá estava o seu João Fagundes dos Santos, vulgo João da Cobra (guarda sigilo fechado do por que do apelido), em cima da “bucha”, entrara de enxurrada, mas era o primeiro da fila, sem qualquer dúvida, nem recebera ficha, todos estavam de prova. O Frazão então o chamou imediatamente para o atendimento, no que entrara radiante, pois foi a única vez que houvera conseguido alcançar seu desejo, ser o primeiro. Respiração ofegante, rosto suado, parecia que tinha saído de uma sauna, corpo meio gelado, coisa diferente, caso de coração? Sei lá!
Antes de entrar propriamente no assunto do empréstimo, dissera o Frazão: “Rapaz, você madrugou mesmo, veio no expresso de Campina Grande?” – “Que nada seu Frazão, é que minha bicicleta hoje amanheceu com uma disposição danada”. Como falara alto, muita gente ouviu o suficiente para aquela gargalhada, bom início de dia para melhora do moral dos funcionários, estressados, que eram pessoas exaustas à força do volume de serviços.
Na hora da saída o senhor João da Cobra chamou o Frazão para conhecer sua bicicleta. Por educação lá fora ele. Chegando à calçada do prédio pôde ver o veículo completamente desfigurado. Havia passado um caminhão carregado de sisal e se chocara com o frágil meio de condução, nada restando inteiro. “Oxente”, dissera o pobre meio “abiscoitado”, maluco, desorientado. Uma desgraça, nada se aproveitava... E agora?... Por sorte o vigilante havia tomado o número da placa do caminhão, que era de um cliente grande do banco, e isso levou a que o João ganhasse uma novinha em folha. Que sorte! Agora era só treinar, amaciá-la e bater novos recordes!
Um abraço.
Até mais ver.
Por volta de 1970, pôde o meu dileto amigo Nobre trabalhar na cidade paraibana de Cuité, localizada numa serra de mais de 700 metros acima do nível do mar, que proporciona um clima maravilhoso e nem faz lembrar os dias quentes, tórridos de quase todo o nordeste brasileiro.
Dias há em que, pela madrugada, não se vê o outro lado da rua, em face da neblina. No inverno, então é um friozinho maravilhoso, razão de nascer tanta criança na cidade.
No Banco do Brasil o Nobre era um verdadeiro raio, não parava. Sua carteira agrícola vivia cheia de “matutos” – agricultores, claro --, em busca do precioso crédito rural para suas lavouras de algodão, milho, feijão, mandioca e até mesmo de sisal – extração primária das fibras, que são muito utilizadas na fabricação de tapetes, cordas, sacos e uma gama de produtos de utilidade doméstica e até mesmo industrial. É o mesmo agave, são sinônimos. Muita gente o confunde com abacaxi, e até parece mesmo!
Aos poucos se ia conhecendo a clientela, decorando até seus apelidos, muitas vezes o próprio nome. O Frazão, que era o ajudante-de-serviço do setor agrícola, pessoa de bom conceito, inteligente e dedicado extremamente aos serviços, tinha ainda o dom de ser brincalhão, de contar algumas anedotas, certamente que aprendia quando tomava sua “carraspana” em dias de folga.
Mas aqui não se trata de anedota, mas fato verídico. Havia um cliente, pobre, mas dos bons, que morava na sua propriedade, localizada bem no início da subida da serra, íngreme e não asfaltada. Costumava chegar cedinho ao banco, a fim de receber uma ficha que garantisse seu atendimento mais rápido. Naquele tempo era na base da ficha, não havia outra maneira, pelo menos não se sabia. Aliás, já seria um processo bem adiantado, porque hoje em dia ainda vemos essas práticas nas mais prósperas empresas do país.
Pois bem, quando o banco abriu às sete horas da manhã lá estava o seu João Fagundes dos Santos, vulgo João da Cobra (guarda sigilo fechado do por que do apelido), em cima da “bucha”, entrara de enxurrada, mas era o primeiro da fila, sem qualquer dúvida, nem recebera ficha, todos estavam de prova. O Frazão então o chamou imediatamente para o atendimento, no que entrara radiante, pois foi a única vez que houvera conseguido alcançar seu desejo, ser o primeiro. Respiração ofegante, rosto suado, parecia que tinha saído de uma sauna, corpo meio gelado, coisa diferente, caso de coração? Sei lá!
Antes de entrar propriamente no assunto do empréstimo, dissera o Frazão: “Rapaz, você madrugou mesmo, veio no expresso de Campina Grande?” – “Que nada seu Frazão, é que minha bicicleta hoje amanheceu com uma disposição danada”. Como falara alto, muita gente ouviu o suficiente para aquela gargalhada, bom início de dia para melhora do moral dos funcionários, estressados, que eram pessoas exaustas à força do volume de serviços.
Na hora da saída o senhor João da Cobra chamou o Frazão para conhecer sua bicicleta. Por educação lá fora ele. Chegando à calçada do prédio pôde ver o veículo completamente desfigurado. Havia passado um caminhão carregado de sisal e se chocara com o frágil meio de condução, nada restando inteiro. “Oxente”, dissera o pobre meio “abiscoitado”, maluco, desorientado. Uma desgraça, nada se aproveitava... E agora?... Por sorte o vigilante havia tomado o número da placa do caminhão, que era de um cliente grande do banco, e isso levou a que o João ganhasse uma novinha em folha. Que sorte! Agora era só treinar, amaciá-la e bater novos recordes!
Um abraço.
Até mais ver.