CONSPIRAÇÃO

As poucas nuvens que ainda bailavam no céu se dissiparam rapidamente.

O sol, deitando-se por de trás do monte vagarosamente, deixou um rastro vermelho-alaranjado, que teimosamente parecia querer ficar.

A brisa levemente tocava as flores dos hibiscos que pareciam sorrir espalhando seu perfume muito sutil.

Ao longe, ouviu-se ainda a despedida de um pássaro solitário.

Aquele fim de tarde já prenunciava... Havia algo de estranho no ar.

A noite mostrava-se clara, barulhenta, podia-se ouvir a “ciranda das estrelas” entre um cochicho e outro com a lua.

Ela, completamente desnuda de meias luas, exibia-se inteira, sem segredos, porém misteriosamente cúmplice.

De repente um silêncio ensurdecedor se fez presente.

...

Acordou abruptamente como se alguém tivesse lhe chamado.

O coração aos pulos fez com que percebesse no rosto e nas mãos um suor gelado.

O tremor do corpo denunciava algo estrondosamente muito maior do que ele o atingira.

Sentindo-se no limite de suas forças, arrastou-se pelo cômodo tentando medir em milésimos de segundos, talvez o último sopro de vida que lhe restava...

E numa ação corajosa em busca de ar, abriu a janela.

Engoliu o vento como se fosse alimento e de repente fitou a lua.

O silêncio foi rasgando-se. Era um riso estupidamente apaixonado de um ser tão pálido quanto à lua.

E o riso elevado pelo pulsar e piscar das estrelas tomou força pelo eco tornando-se gargalhadas invadindo o infinito.

Era o Universo, mais uma vez conspirando baixinho, de mansinho, vagarosamente em favor de um mortal.

Não fora o escolhido por acaso, contudo, por muita sorte, havia ali uma simples janela.

Vento de Outono
Enviado por Vento de Outono em 25/11/2009
Código do texto: T1943106
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