ANOITECER

Aos poucos o parquinho foi ficando vazio.

As mães e as babás recolhiam os brinquedos espalhados no gramado fofo e bem cuidado, recortado pelo passeio da praça aonde velocípedes de plástico colorido faziam a alegria dos menores.

Os vovôs estavam recolhendo as pedras do dominó que, em partidas sucessivas, consumiram as horas mornas da tarde.

Os primeiros morcegos, animais crepusculares, enfeitavam o céu azul celeste esmaecido.

O fiapo de quarto crescente flutuava no infinito que, aos poucos, revelava miríades de estrelas.

As cigarras, numa sinfonia vibrante, faziam o fundo musical do crepúsculo onde o sol vermelho tingia de sangue as folhas das palmeiras imperiais.

As pessoas, umas apressadas outras lentamente, entravam e saíam da padaria com os pacotes de pão.

Adolescentes estudantes do colégio das freiras passaram em algazarra pela praça deixando um rastro de alegria juvenil.

Dois meninos de rua jogavam futebol com uma garrafa pet, tão suja quanto eles.

Os ônibus, em intervalos nem tanto regulares, despejavam trabalhadores vindos do centro da cidade, visivelmente cansados, abraçados a pacotes e carregando as marmitas vazias.

A boca da noite mastigou as últimas cores do dia...

As sombras se alongaram enquanto as lâmpadas dos postes preenchiam o vazio deixado pela luz do sol posto.

A brisa suave trouxe para a praça o cheiro bom de sopa fervendo.

O sino da igreja velha tocou as seis badaladas do ângelus.

A coruja branca abandonou o campanário em vôo macio.

O dia se morreu silente...

Anoiteceu.