POR QUE MUDARAM OS LÍDERES JOVENS DA MINHA GERAÇÃO?
Entristecida, mas não surpresa, me vejo hoje acompanhando notícias dos homens que eram os jovens de ontem. Entristecida porque a bandeira levantada naquela época, ficou jogada nas esquinas durante a ascenção política desses homens. Sem surpresa, porém, confirmo que o poder corrompe. Aqueles jovens guerreiros, entusiastas, perderam-se nos caminhos perigosos das facilidades adquiridas. Tanto lutamos, muito sofremos, tantos morreram, alguns sumiram, outros subiram.
Os estudantes que desafiaram a ditadura, intrépidos, entregando suas próprias vidas em prol das liberdades civís, são os adultos que têm nas mãos, hoje, os destinos da Nação. Preto no branco. Luz e escuridão. Dia a noite. Amor e ódio. Calor e frio. São antônimos. Como antônimos são os ideais jovens de 68 com as atitudes adultas de 2009.
1968 foi o ano das rebeliões estudantís. Depois de 1968 o mundo nunca mais foi o mesmo. Nesse ano, jovens do mundo inteiro foram às ruas. A causa, com algumas variantes, era a liberdade e a paz. Nos EUA eles ouviam os Beatles e o Rolling Stones, e não queriam ir para o Vietnan. Hippies, com o poder do amor e da flor, iniciavam uma revolução de costumes. Na França, jovens e operários, sonhavam e combatiam em nome de uma nova sociedade. Na Tchecoslováquia, os estudantes enfrentavam os tanques russos, nas ruas de Praga.
No Brasil, os estudantes foram o primeiro grupo social a enfrentar a ditadura militar. A UNE (União Nacional dos Estudantes _ quanto orgulho tínhamos dela!) continuava a liderar, mesmo depois de banida, os protestos e as passeatas, todas dissolvidas com violência pelas tropas de choque. O desejo de liberdade e justiça colocou a juventude brasileira frente a frente com o governo, que respondeu com violência. No dia 13 de dezembro de 1968, o Ato Institucional número 5 mergulhou o País no período mais negro de sua História. O AI-5, por onze anos, provocou no Brasil, o pior período de repressão política.
Todo mundo, jovens e adultos, conhece essa fase negra da nossa História passada. Todo mundo conhece a fase negra da nossa História presente. Todos sabem, hoje, os resultados nefastos dessa ditadura. Todos estão sentindo na pele, agora, as consequências de uma democracia mal direcionada. Os que foram jovens durante a fase negra do AI-5, saberiam citar, sem pestanejar, ativistas que lutaram contra o terror da ditadura e que hoje estão aí para contar a História. Os jovens de hoje, mesmo não identificando no líder político atual, o mesmo estudante ativista de outrora, sabem que nossos representantes não estão bem "na foto". Não vou citar nomes, até porque estão nos meios de comunicação e a gente pensa: onde já vi essa cara? E os livros de História, a Internet, estão aí para identificá-los.
Minha intenção, hoje, é questionar. E perguntar: Por que? O que aconteceu àqueles estudantes que morriam se preciso fosse (e quantos morreram!) pelo ideal da liberdade? Em que momento se perdeu o idealismo, o bom senso, o amor à causa? Onde ficou o respeito, o caráter, a nobreza que tantas vidas custou a este País?
O Brasil mergulhou num mar de dores, de sangue, de repressão, de proibições. A luta foi difícil, mas conseguimos as "diretas já". Aqueles joves de 68, eram adultos agora e chegava sua vez. A vez de escolher, de participar, de ocupar posições de destaque, de colocar em prática suas idéias, de dirigir os destinos do País.
Minha geração vibrou... e errou! O primeiro Presidente eleito... furo total! O segundo Presidente eleito... nem parecia o mesmo estudante daquela época longínqua! O terceiro Presidente eleito... o tempo dirá! É claro que, nos entremeios, entre uma eleição e outra, tivemos vices que assumiram, dando a impressão que votamos mais vezes para presidente.
Nossos direitos civís restabelecidos, título na mão, povo vai às urnas escolher os representantes nas Câmaras e Senado. Contente, porque Congresso significava democracia. E escolhemos. Exatamente aqueles antigos jovens da nossa geração. Confiando nossos destinos aos companheiros das lutas estudantís.
Decepção, irritação. Vontade de trazer de volta a guilhotina. Que aconteceu? O que estão fazendo esses jovens de outrora, hoje já cabelos brancos? Querem exterminar o povo brasileiro? Querem levar nosso País à falência?
Eu morro e não vejo tudo! Só espero que lá, no outro plano, existam muitas moradas, pois eu não quero que saibam que fiz parte da mesma geração desses corruptos, interesseiros e ditadores. Sim, ditadores! Acabou a ditadura militar e entrou em vigor a ditadura da corrupção!
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* Esta crônica é uma homenagem ao Dante Marcucci, como continuidade a minha crônica "Direitos e deveres" (eu devia isso a ele) e para a querida Esther Ribeiro Gomes, ativista política da década 60/70.