VIDA... ( INGRATA OU SENSATA )

As vezes, acho que a vida é ingrata, outras acho ela sensata.

Lembro-me como se fosse hoje daquele Natal...

Conseguimos reunir toda família, até parecia que algo estava por vir.

Sentia uma felicidade diferenciada no ar.

Em cada gesto uma lembrança.

Papai carregava nos olhos, um olhar distante.

Sentado em seu banquinho de madeira, que não dispensava por nada, permanecia só observando.

Em seu rosto estampava marcas de sua dura batalha pela Vida. Esboçava em poucas momentos um sorriso meio sem graça, meio sem vontade.

Homem simples, trabalhador, com pouco estudo mas inteligente. Adorava criar coisas para casa, como se tudo fosse uma obra de arte.

Para ele toda pessoa carregava na alma bondade, e jamais enxergara esta tão famosa e conhecidada maldade.

Cresceu acreditando que não podia ter aproximação entre filhos e pais, porque liberdade atraia desrespeito.

Mas, com o passar dos anos mostrei a ele que não era bem assim, quebrando portanto, aquele tabu que de certa forma nos separava.

Homem família, criara os filhos nas rédias...rs

Bastava uma olhar atravessado, e tudo se entendia.

Hoje em dia nada intimidam as crianças.

E este foi nosso útimo Natal...

Minha última recordação.

A tarde caia, e a noite pedia licença para sua chegada...

Na empresa havia clima de euforia misturado com a alegria.

Era entrega de diplomas pelos cursos de Encontro de Gerência e Construindo meus Projetos de Vida.

Eu era toda sorrisos, muita gente falando, e o auditório estava completamente lotado. Me sentia tão feliz....

Além da entrega do diploma, veio outra notícia que por todo desempenho profissional, eu ganhara um carro zero KM da empresa...Oh! modesa

Era um dos meus sonhos sendo realizado...

A primeira pessoa que venho em minha mente, foi lembrar de papai, pois quando teve, seu primeiro ( AVC ) precisou fazer fisioterapia e não tínhamos carro, e nesta época o hospital não disponibilizava de ambulâncias suficiente.

Isso porque todo mês era descontado de seu salário a parcela do INSS, mas em fim eu estava duplamente feliz.

Distanciei-me um pouco de todo aquele clima, e notei que o telefone tocara insistentemente.

Alguém atendeu, e para minha surpresa era justamente pra mim.

Do outro lado alguém dizia:

- Bárbara seu pai está hospitalizado, sofreu um infarto. Precisamos de você aqui urgente.

Ele já havia falecido, mas as pessoas não disseram por telefone.

O infarto foi fulminante...

E neste dia papai partiu...

E hoje eu vivo a me perguntar a Vida é Ingrata ou Sensata...

Ela te dá, mas ela também tira sem pedir licença...

P.S Fiz este texto, inspirado na LINDÍSSIMA CRÔNICA da Isabel Ramos

( Meus dois Amados Presentes ).

Dolce Bárbara
Enviado por Dolce Bárbara em 24/11/2009
Reeditado em 24/11/2009
Código do texto: T1941770
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