Observatório
   Águida Hettwer
 
  Um olhar no concreto cinza. Não tenha dúvidas, do quanto gostaria de ter um carnê de muitas prestações para pagar. Um trabalho fixo, onde meu supervisor exigisse-me o impossível. E no final de um dia stressante de trabalho, tomasse dois ônibus superlotados, para retornar ao meu lar.
 
    E lá encontrasse meninos fazendo bagunça na sala de estar, chamando-me de “Papai”. Mostrando-me as lições de casa, os desenhos, os riscos e rabiscos, onde precisasse me esforçar para decifrar o enigma da arte das crianças. Da cozinha viesse um aroma delicioso, de uma comida caseira, preparada pela minha linda e amada esposa.
 
    Minhas roupas apesar de fora de moda, e sem etiqueta cara, fosse tão cheirosa, feito roupa nova, organizada e bem passada. É confesso! Alguns fios brancos enfeitam-me a cabeça, culpa das noites mal dormidas, preocupado com a má educação do povo, a insegurança das ruas, dos lixos jogados pelo chão, do mau cheiro, pichações a perder de vista, na altura dos grandes prédios do centro.
 
 Em uma tarde de domingo, pudesse sair passear com meu filho na garupa, sem a preocupação de ser assaltado em uma esquina. Pudéssemos torcer pelo mesmo time de futebol e irmos juntos ao estádio, em uma diversão sadia sem violência. Vê-lo crescer como um homem de bem, tendo bons exemplos na família.
  
   O papel materializa o pensamento. Os sonhos me mantém vivo. E a vida não passe diante de mim, e eu não a perca por um segundo...
 
                                                                                                             24.11.2009
 
 

Dados: Foto tirada no centro de São Paulo.(22.11.2009)