Bichinhos de goiaba
Dizem que as mulheres têm esse instinto natural para a maternidade.
Não duvido disso.
Eu mesma, já senti algumas vezes, quando estava com um bebê risonho nos braços, a necessidade de ter meu útero preenchido daquilo.
Existem tantos significados ser mãe.
Felizmente em outros momentos, que preenchem quase totalmente minha vida, tenho que ser racional e entender que há hora pra tudo na vida e é melhor planejar bem as coisas.
Então, houve momentos que eu quis ser pediatra. Poucos também.
A questão na verdade, não é essa.
Estava lendo essas reportagens na revista Carta Capital, sobre o mercado da pedofilia e sobre o bem que a diminuição da natalidade trouxe ao mundo.
Você sabia que a existe um mercado "pedófilo" que movimenta todo ano 5 BILHÕES de doláres?
Eu não sabia.
Foi um choque pra mim. É terrível, desagradável e indigerível saber disso.
Saber que nossas crianças estão expostas à isso. E isso ser tão valioso.
Você pode me achar ingênua. Continuo chocada.
Então, me lembrei de uma conversa que tive com um professor. Sobre ele só querer ter um filho. E alguns amigos, que preferem não colocar nem sequer uma pessoa no mundo.
E estava avaliando como o desenvolvimento do país muito tem haver com a diminuição da taxa de natalidade, não se sabendo quem gera quem...
Já há uma estimativa que a natalidade em 2020 será apenas a de reposição. Ou seja, cada casal terá no máximo, dois filhos. O que gerará uma grande mudança no cenário social do mundo. Em muitos aspectos.
Me impressionou tudo isso.
Mas também não é essa a questão.
A questão é, como não ter medo?
Como acreditar que aqueles seres pequeninos, desnutridos, anêmicos, descalços e sujos podem mudar a nossa realidade? Tão indefesos e já tão promiscuos...
Muitas vezes já corrompidos. É desagradável. Fere o nosso ego.
Fere meu sonho de ser mãe.
Existe tanto abandono.
E o mundo se desenvolvendo e as crianças diminuido. Ficando raras. Encarecendo esse mercado.
E nossas políticas (do Brasil) tão pobres. Tão corruptas.
Só me lembro de um estudo feito no ABC paulista, que li há alguns anos, sobre castração química nos presos por pedofilia, ajudando na pena. Não sei como anda.
Mas ao contrário de países europeus e outros desenvolvidos que discutem seriamente o problema, em busca de solução, nosso país, hoje focado nas eleições, não pensa muito à respeito.
Estar no curso de pediatria, me fez muitas coisas.
Ver crianças todos os dias, de todas as formas.
Me fez mais romantica, mais doce, mais pessimista e descrente, maleável e também mais resistente.
Principalmente me mostrou que muitas vezes temos que lutar só com o que temos.
Mesmo que seja um pedaço de pau e algumas pedras.
Ou um copo de água filtrada e quente.
Boa sorte aos pediatras e cuidado futuros papais.