DESCENDO DE PARA-QUEDAS

DESCENDO DE PARAQUEDAS

A pescaria foi um sucesso, eu jamais havia pescado tanto. Não obstante as águas revoltas e o vento forte que abria grandes vagas formadas por ondas colossais que ferozmente ameaçavam a frágil embarcação, o mar foi generoso nos presenteando com grandes quantidades de peixes.

O sol começara a surgir em grande estilo ao longo, na linha imaginária que separa as águas das formações rochosas que idealizam pequenas montanhas. O som do canto das aves marinhas entre o revoar das gaivotas, patos e o colorido incomparável dos guarás enquanto o nosso barco singrava o mar o meu pensamento vagueava no meio mundos, pessoas, contemplações múltiplas entre o acaso e o medo da verdade, aquele surto psicótico que oprime o coração dos incertos, daqueles que um dia ousaram pular do alto de um céu azul de pára-quedas mais que não perguntou como abrir aquele artefato e jamais imaginou quão suave ou não seria a sua queda nem muito menos o tempo que teria antes de no chão se esborrachar e finalizar a sua viagem pensante, sua vida itinerante entre o real e o belo, o fatídico viver e a vontade de ainda existir e flutuar nos sonhos sem acordar nos pesadelos que se lhes atormentou todo o tempo da sua vivência , da intranqüilidade, da transparência nítida dos cristais expostos na estratégia de um mundo divino, mágico e ternamente exuberante, aquele que só passeia na mente dos apaixonados, que flutua acima de nuvens multicoloridas e que alegra os corações em pura emoção quando a canção ouvida, respirada e aspergida se chama amor e o andar de cima em toda a sua gloria seja uma incógnita ou pura essência abstrata de uma imaginação fértil ou do desejo incontrolável de permanecer vivo mesmo sendo cordeiro em terra de lobos em guerra...

Mais a queda livre, o não abrir do pára-quedas, o fim próximo e, eis que do imaginário ou não surge o semi-Deus , corpo de homem com asas prata escarlate e feição de rara beleza. Ele plainou as suas asas e em seus braços me amparou como a um filho e desceu suavemente sobre a ravina próxima, acomodando-me carinhosamente sem me tirar do sono, mais ao alçar novo vôo em direção ao infinito mundo dos sonhos eu abri os olhos e pude ver toda a beleza e saber que fé nunca é demais assim como viajar pelo esopaço e tempo sem perder a hora de voltar é possível...