RODA VIVA

"Tem dias que a gente se sente/ como quem partiu ou morreu/ a gente estancou de repente/ ou foi o mundo então que cresceu...". A música do inigualável e politizado Chico Buarque de Holanda está na minha cabeça desde hoje de manhã, quando acordei. Os versos mostram a agonia de quem quer ir adiante e se sente preso ao solo, sentindo-se pequeno, porque o mundo não diminuiu a marcha, para acompanhar nosso rítmo. "A gente quer ter voz ativa/ no nosso destino mandar/ mas eis que chega roda viva/ e carrega o destino prá lá...". É a impotência que separa o desejo de ir e as circunstâncias da vida que nos impedem de seguir no mando... levados de roldão, contra a vontade mais íntima.

Essa música foi feita naquele período negro da censura em nossa História. Mostra bem a realidade das mãos e do pensamento amarrados.

Trago para o presente e dou outra conotação a essa letra. Ela se presta a outras interpretações e pode ser ajustada ao nosso estado de espirito, no dia a dia. Não para todos os dias. Alguns dias. Aqueles dias em que nos sentimos meio desalentados, impotentes frente aos problemas que devemos resolver. Hoje, essa letra se ajusta a mim, ao meu estado de espírito. Coisas mil, cuja execução depende de mim e que, neste instante, as sinto pesadas, parecendo maiores do que comportam minhas forças. É um desalento, uma vontade de ficar parado, não agir, deixar as coisas irem de roldão. Não fazer nada. É aquele "sentar à beira do caminho".

Pois é assim que estou, neste domingo enrustido, cheio de nuvens negras, céu encoberto, prenunciando nova tempestade, depois de tantas que atingiram o Rio Grande nos últimos dias.

Pode ser o tempo "enferruscado" que tem o poder de me deixar deprê. Pode ser o problema que tenho nas mãos e que me tira a vontade de prosseguir. Estou cansada, hoje. Não é físico, é mental. É um prenúncio de desalento e desespero íntimo, que me tornam pequena. Assim, neste estado de espírito, o problema assume proporções imensas. Maior, talvez, do que ele é. Não procuro consolo. Procuro soluções. Que dependem de mim.

Hoje, porém, com o céu nublado, prenunciando chuva, minha auto-estima está no dedão do pé. Não vou lutar contra. Não vou reagir. Vou esperar o Sol que amanhã, talvez, brilhe, trazendo fluídos salutares que minha alma tanto precisa. E aí, eu tenho certeza, na Luz, o problema ficará tão pequenininho e eu tão forte e tão grande, que conseguirei superá-lo.

Por hoje, meus queridos amigos, minhas desculpas por este desabafo, por esta tristeza. E um pedido: me enviem Luz para eu dormir, sonhar e acordar vendo um raio de Sol entrando em minha janela. Assim, minha alma encontrará o conforto, a confiança e os instrumentos para destronar o desânimo e instalar, no meu coração, a alegria e o sabor de viver.

Giustina
Enviado por Giustina em 22/11/2009
Reeditado em 14/02/2014
Código do texto: T1938506
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