Aqui se faz, aqui se paga

Um dia desses, participei de uma enquete na Folha Online, cujo tema era “Punição aos Corruptos”. A matéria era sobre um ex-diretor de uma agência governamental da China, que foi condenado à morte por motivos de corrupção. A enquete questionava se é justa a pena de morte por este tipo de crime.

Ao enviar meu voto, fui, como de praxe, verificar o resultado, mas, confesso, fiquei surpresa. Até o momento de minha votação, o resultado era o seguinte: 80% dos participantes achavam que sim, pessoas que cometem crimes de corrupção deveriam ser condenadas à morte; do outro lado, apenas 20% dos votos contabilizados (dentre eles, o meu) era contra a pena de morte nesses casos.

Não pretendo, em hipótese alguma, parecer a favor de quem comete uma violência desse tipo contra os direitos humanos (afirmo que seja uma violência contra os direitos humanos, pois sabemos muito bem que a corrupção é a grande responsável pela distribuição de renda absurdamente desigual em nosso país e no mundo), mas creio que tal crime merece mais do que uma punição “eliminatória”. Precisa-se urgentemente de uma solução definitiva.

No entanto, outra questão (talvez a mais séria) intrigou-me ao constatar o resultado da pesquisa: a falta de humanidade. Muitos afirmarão: “mas essas pessoas corruptas são as menos humanas que existem!”, e, nisto, concordo plenamente! Porém, que tipo de sociedade queremos deixar aos nossos filhos e netos? Uma sociedade em que a vida não tem valor algum, em que se paga pelos erros com “olho por olho, dente por dente”?

Lembrei-me agora de uma campanha contra filmes piratas, na qual um pai chega em casa todo orgulhoso, porque comprou filmes piratas por um preço inferior ao dos originais, e o filho – que comprovadamente se espelha nos pais quando ainda não tem opinião formada – faz a seguinte analogia entre sua atitude e a de seu “espelho”: “pai, colei na prova e tirei 10!”, os pais olham o filho com incredulidade, ao que ele responde: “Qual é? Tirei 10!”. Ou seja, não importam os meios, mas sim os fins. No pensamento do menino, sua atitude foi tão correta quanto a de seu pai, pois o que este ensinou é que se deve tirar vantagem de tudo sempre, não importam os meios. Volto, então, para o resultado da enquete: o que queremos ensinar aos nossos filhos? Que se alguém o ameaçar de morte algum dia, ele deverá ser mais “esperto” e matá-lo antes, pois, afinal, o mundo é dos espertos? Ou que todos os políticos são corruptos e o voto é, portanto, uma perda de tempo e esperto é aquele que dá um “jeitinho brasileiro” para burlar tantas leis burocráticas deste país que não anda? E mais, vamos ensinar também que eles podem roubar clips, canetas, blocos de notas, papel sulfite, imprimir cópias e cópias utilizando a impressora de seus chefes, afinal estes enriquecem às custas de seu suor, de férias não tiradas, salários mal pagos, noites mal dormidas e humilhações sofridas. Porque aqui se faz, aqui se paga, é tudo no thooth for a thooth, ou melhor, vamos abrasileirar isto: é tudo no “tet a tet” mesmo!