O MENINO, A GOIABA, A TATURANA E O BENZEDOR

O "Poção do Henrique Português" era uma piscina natural no Ribeirão Farturinha, frequentada pela molecada de Carlópolis na década de sessenta.

No caminho havia a chácara da dona Maria Marcolina, protegida por uma cerca de balaustas (ripões de madeira). Uma goiabeira ainda jovem ficava bem encostada na cerca.

O menino de uns 13 anos, filho da costureira, fugia de casa pra desfrutar do cobiçado poção.

Todo dia ele estava lá!

Certa tarde, a caminho do ribeirão, passando em frente da chácara olhou para a goiabeira e viu um fruto enorme, amarelinho, esperando pra ser colhido e degustado com prazer.

Enfiou o braço pelo vão da cerca e quase alcançou a goiaba!

Faltou bem pouquinho!

Então, virou-se de lado pra conseguir levar a mão até o fruto.

Teve uma terrível surpresa!

Em vez de conseguir apanhar a goiaba, esbarrou o dorso da mão numa taturana avermelhada!

O veneno queimou terrívelmente!

O menino saiu numa corrida desenfreada!

Chegou em casa chorando, com a mão muito inchada e uma íngua na axila.

A dor era insuportável!

A amorosa Mãe disse:

___Vá até a casa do seu Izidoro Fernandes! Peça pra ele benzer que vai ficar tudo bem!

Minutos depois o menino já havia explicado ao benzedor o que havia acontecido e este, com um galhinho de arruda embebido em água benta, fazia o benzimento milagroso.

Mal terminou a oração e jogou a arruda pro lado do poente, o menino, sem dor, agradeceu e voltou correndo pra casa a fim de relatar à sua Mãe, aliviado e sorridente que o senhor Izidoro Fernandes, famoso benzedor de picadas de cobras e outros bichos peçonhentos, eliminara a dor restando somente a íngua e o inchaço da mão.

Texto autobiográfico