A PROFISSÃO QUE EU ESCOLHI...

Essa semana que passou, eu estive no interior do meu Estado, visitando um Município onde eu sou responsável pelo andamento de um programa do MEC/SEEC, voltado para a capacitação de professores que trabalham com a Educação Infantil.

Pois bem, algumas vezes eu já fui questionado porque deixei as minhas outras atividades profissionais e me dediquei, integralmente, à educação. Questionam-me, por exemplo, porque eu não aceito voltar para a atividade empresarial – como um administrador – ou mesmo, iniciar-me como próprio patrão, se eu já inseri várias pessoas – quando fui o professor de uma cadeira chamada Contabilidade e Custos – a maioria, hoje, bem sucedidos empresários na minha cidade, através do conhecimento que repassei para eles. Essas pessoas, ao me indagarem, questionam justamente isso: se eu consigo e consegui fazê-las alcançar (compreender e conviver) o sucesso profissional, porque não participar, também, desse sucesso financeiro?

Verdade. Talvez fosse fácil – ou não – (eu) obter sucesso em qualquer tipo de atividade, principalmente, nos ligados ao empreendedorismo – já que fiz cursos, participei (e participo) de programas voltados para a iniciação de jovens empreendedores, enfim, poderia aliar o conhecimento teórico com a prática pedagógica, tendo como base, os longos anos que passei debutando na área bancária. Poderia.

Entretanto, apesar de saber que a profissão que eu exerço não é, muitas vezes, valorizada como deveria ser e, apesar de saber que essa profissão nunca irá me dar os supérfluos que outras atividades certamente dão, eu ainda não me questionei sobre o porquê de não querer voltar para qualquer outra atividade que não seja a educação.

Recentemente, uma pessoa amiga – por sinal uma pessoa dinâmica e um exemplo de empreendedor – me convidou para uma conversa e, nela, me fez propostas para eu exercer uma atividade no ramo de vendas. Mostrou-me as maravilhas tecnológicas que eu poderia adquirir, as viagens que eu, com certeza, iria fazer, os lugares magníficos que eu iria conhecer (e desfrutar), tudo isso, através dos dividendos que receberia pelo produto que iria trabalhar. Proposta tentadora, confesso. Ouvir dele os relatos de suas viagens, os bens materiais que adquiriu, o padrão de vida que levava, o mundo real que conhecera em todas as partes do mundo, de fato, era uma tentação.

Mas, apesar de tudo, não me inclinei a aceitar. Não me vi inserido naquele universo onde teria que oferecer, para poder ter o que me era prometido, um produto que custava caro e que, na maioria das vezes, servia apenas de ilusão para quem comprava, pois sacrifício e força de vontade não ficou para todo mundo. Se assim fosse, bastaria aplicar, no dia-a-dia, uma atividade física, uma refeição simples – mas equilibrada – e evitar os exageros do cotidiano.

Eu sei que a minha profissão não me oferta, no momento, o bem-estar de poder usufruir de alguns dos meus sonhos. Eu sei. Também tem uma coisa: se ela apenas me fizesse desfrutar da materialidade dos meus sonhos, talvez eu já tivesse aceitado convite para migrar para outras profissões.

Contudo, a minha profissão me oferta uma coisa que nenhuma outra profissão, que exerci, conseguiu me ofertar: o prazer de fazer tudo com vocação, com amor. Oferta-me, por exemplo, o prazer de estar, como aconteceu outro dia, assistindo a uma missa e, na minha frente, um jovem muito alto não me deixava ver o altar onde o sacerdote estava. Por mais que me esforçasse, ficasse na ponta dos pés (e olha que eu sou alto também!), eu não conseguia enxergar nada. De repente, o jovem se vira para trás e me vê. Esquecendo-se que estava na missa, ele me chama de professor, me abraça e, em seguida, me apresenta a sua esposa e a sua filhinha. Percebendo, depois, o meu espanto, ele me disse que talvez eu não me lembrasse dele, porém, eu tinha sido, sem sombra de dúvidas, com minhas aulas e conselhos, o responsável por ele ser aquele homem que ele era hoje: responsável, bem sucedido profissionalmente e chefe de uma bela família.

E, para terminar, volto ao início desta crônica – meio metafísica, meio poema em prosa – para dizer que não há dinheiro que pague o que eu presenciei quando da minha estada no Município de Messias Targino: como eu tinha ido presenciar a prática pedagógica de algumas professoras, eu abri a porta de uma das salas e, ao dar bom dia, todas as crianças responderam ao mesmo tempo e, para surpresa minha, correram ao meu encontro, me abraçando. Formou-se ali uma espécie de pacto entre o meu desejo de ver um futuro melhor para todos eles – exercendo a minha profissão de educador – e a certeza de que aquele abraço representava a resposta de que a minha escolha tinha sido acertada, pois em cada olhar, em cada gesto, em cada nome pronunciado (eu me chamo Guilherme, eu me chamo Pedro, eu me chamo Sara, em chamo Ana), assinava embaixo o meu sonho maior de ver um país transformado pela educação.

E isso não tem dinheiro no mundo – se você tem vocação para educar – que pague o prazer desse sonho. Os outros sonhos? Eu os tenho dentro de mim. Talvez um dia eu os realize, também.




Obs. Na foto, as professoras da Educação Infantil da Cidade de Messias Targino/RN, que participam do Programa Proinfantil, com o seu professor formador. Da esquerda para à direita: Fátima Filha, Cleide Cardoso e Fátima Rodrigues (tutora).
Raimundo Antonio de Souza Lopes
Enviado por Raimundo Antonio de Souza Lopes em 22/11/2009
Reeditado em 07/12/2011
Código do texto: T1937641
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