Monumento ao domingo
Hoje cedo, a caminho da praia, pensei nas vezes anteriores em que fui ao mar. Foram muitas. Claro que nem mais estou entusiasmado. O mar é tão natural que não há motivos para uma alegria extrema ante a perspectiva de chegar até ele.
Bem, confesso que tenho que ir cedo, para não torrar ao sol com a minha pele clara de neto de imigrante europeu. Mas dar uma olhada no mar é obrigação diária.
Que bom que estamos numa época segura, sem maremotos ou tsunamis, assim podemos ir tranquilamente.
O meu ideal de vida é este: chegar cedo ao posto seis, ajudar os pescadores a recolher as suas redes e suas tralhas, e, quem sabe, ganhar de presente um peixe, um badejo!
Depois, passar o dia voltando pra casa, tomando água de coco aqui e ali.
Caso estivesse afim poderia me meter nos vários grupos de conversa, “que quê o Lula vai fazer com o Battisti”, “consciência tem cor?”, “ e o Pitta, hein, dessa vez ele exagerou!”
Mas, não, vou até a areia e pretendo molhar os meus pés na bendita água do oceano Atlântico.
Quando escuto o meu vizinho, o Lemos, gritar: “O rapaz, sai dessa areia que tu vai pegar uma micose!”
É bem possível, essa é a areia que já foi pisada milhões de vezes, o monumento à coletividade, como nos versos do Aldir Blanc sobre João Cândido, “que tem por monumento, as pedras pisadas do cais”. E eu sou apenas mais um a pisar, enquanto passa o domingo.