HOMO DATA
Na idade neolítica, o homem aprendeu a domesticar os animais e as mulheres. Isso se chama evolução. Lentamente, o Homo Sapiens vai desaparecendo, surgindo em seu lugar o Homo Data, primata meio bípede, meio erecto, pertencente ao gênero Homo Ciberneticus. Os membros dessa espécie têm um cérebro altamente codificado e decodificado em padrão de bits.
O Homo Data passa a maior parte de sua vida enviando mensagens, checando e-mails, jogando games e escrevendo em blogs idiotas como este. Por estar sempre on-line, o Homo Data perde a noção do tempo e chega a esquecer do que rola em seu meio ambiente. Se casado, esquece a prática sexual e passa a se dedicar ao que chamam de sexo virtual. Em vez de camisinha, usam um antivírus. Os viciados cibernéticos são considerados genocidas, pois cada vez em que se masturbam, morrem milhões de pessoas que iriam nascer. Autênticos hitlers de banheiro, ou de teclado.
O Homo Data, por ter se tornado tão dependente do computador, criou uma irmandade para recuperar os viciados em alto grau, baseada nos doze passos dos alcoólicos anônimos e nas doze trepadas das prostitutas anônimas, uma irmandade para recuperar mulheres casadas e supostas donzelas que concorrem deslealmente com as putas profissionais.
Nas madrugadas do Homo Data, as mais indevassáveis das fantasias são invadidas, as frases mais idiotas são elevadas à quintessência da genialidade e os plágios mais evidentes são consumados, mais conhecidos como “copia e cola”.
Seguindo a onda, o governo criou a necessidade de inclusão digital, dando acesso ao mundo virtual a todos. Mais ou menos como dar um carro a alguém que não sabe dirigir. No caso, o computador fica na condição de ter que adivinhar o que o usuário está querendo. No fim, ele só quer fazer sua página no orkut e xavecar aquela fulaninha com uma linguagem especial que fica entre a imbecilidade perfeita e o analfabetismo disfarçado. Dizem que são erros propositais quando digitam “aki”, “vc” e “naum”. "Canxxadu di ler texxtux axxim", o Homo Data regride à condição de analfabeto funcional. Não é o caso do autor dessas mal tecladas linhas, que se considera apenas analfabeto virtual.