Cinema
Embora jogássemos bola, piões, bolinhas de gude, e soltássemos pipas nos finais de semana íamos, impreterivelmente, ao cinema.
Meu pai era fiscal de diversões públicas, e isso dava direito a nós, eu e meu irmão, a duas permanentes - entradas grátis -, em todos os cinemas da Cidade de São Paulo. Uma do Grupo Serrador e outra do Grupo Havaí, para duas e para três pessoas respectivamente, ou seja, além de entrar sem pagar, podíamos levar amigos, o que fazíamos com o maior prazer.
Art. Palácio, Paissandu, Marrocos, Olido, Comodoro, Ipiranga, Republica, Bijoux, e muitos outros. Gostávamos de ir a cinemas de bairro, fosse aonde fosse, só para conhecer, Fontana, Fiameta, Nilo, Jamor, Jóia, Niterói, e muitos, muitos outros.
No meu bairro tinha o Maringá, enorme. Íamos com tanta freqüência que era como se assistíssemos televisão hoje. Além dos filmes principais, víamos os seriados, a cada semana um capitulo diferente: A marca do Zorro, O Homem Foguete, Roy Rogers e tantos mais.
Filmes de todos os lugares do mundo, franceses, ingleses, americanos, italianos, japoneses, portugueses, mexicanos. Os Filmes, alguns eram considerados verdadeiras obras de arte. Muitos levavam anos para serem terminados. Seus diretores eram considerados verdadeiros Da Vinci da Sétima Arte. Visconti, De Sica, Bergman, Kurosawa, Hitchkoch, Pasolini, Wells, e outros. Com relação aos do Brasil, os filmes da Atlântida e dos Estúdios Vera Cruz, tivemos grandes diretores, mas o que marcava eram os atores como Anselmo Duarte, Grande Otelo, Oscarito, Zé Trindade, e o maior de todos, Mazzaropi, imitado à exaustão pelos Didis da vida, mas nunca igualado.
As grandes salas de cinema estão extintas, também o glamour. A maioria virou templos religiosos, e as que restam passam filmes de gosto duvidoso. Há as de shopping, mas nada que se compare.
É um passado, como todos os passados, não volta mais. Quando as luzes apagavam, e a música clássica começava, nos emocionávamos com a expectativa do espetáculo que se iniciava. Abram se as cortinas...