Universo paralelo
Nesse calor eu fico acabada. Perco a noção do tempo, do espaço e cada vez mais dos motivos do último apagão. E eu lá sei das probabilidades de três raios caírem simultaneamente em três lugares onde não deveriam cair? Vontade de fugir pra outras paisagens. Mas não há jeito, e então reúno todas as minhas forças. Prendo o cabelo, pego a bolsa, saio.
Ao lado do meu destino há uma barraquinha de doces. Compro uma cocada, que adoro, apesar de não estar com nenhuma vontade de comer doce. Guardo-a. Vou ao Banco, chateação, coisa rápida.
Volto pra casa. Sombra fresca, água. Encho um bom copo e vou matando a sede, atravessando os cômodos em direção ao quarto. Desfaço-me da roupa fervilhante do sol da tarde, visto uma toalha fofa para depois tirá-la. Banho-me. Posto-me na cama, olhos fixos na calmaria branca do teto. As cortinas esvoaçando não deixam que eu me esqueça: Tenho somente duas horas para descansar na única tarde mais folgada da semana. Fecho os olhos, tentando não pensar. Se ao menos houvesse um apagão por detrás das minhas pestanas... mas não, lentamente um desenho ganha formas, contornos, se levanta e vem em minha direção. Um universo paralelo me abraça.