Sequestro
Alto da Tijuca, clima frio, rua com calçamento em pedras bem colocadas.
Casas, muitas casas. O Alto já teve o seu apogeu, mas continua sendo um dos bairros mais importantes do Rio de Janeiro. Como o lugar sempre abrigou milionários, há vinte anos quem tomava conta das casas eram os cães de guarda, pastores alemães, principalmente. Os caseiros e seus bastões de madeira, quando não era um revólver mesmo, faziam o papel de vigilantes.
O Alto da Tijuca, por incrível que pareça, não é alvo de ataque dos bandidos que infestam o Rio de Janeiro. A segurança interna das casas, e o policiamento nas ruas, feito principalmente por soldados da PM que estão de folga, garantem uma boa tranquilidade no lugar.
Não foi o que aconteceu naquela noite de agosto. Um bando armado invadiu uma casa. Quatro homens, sabedores que havia no cofre jóias e moedas estrangeiras, em quantidade. Depois de baterem no dono, começaram a ameaçar a filha, já passada da juventude, de estupro. Levou uma tapona no rosto quando reagiu de cara feia.
Um dos vigilantes de rua chamou o BOPE. Iria começar um enfrentamento perigoso, mas o major que comandava a operação era bastante experimentado.
Depois de duas horas dialogando com o que se dizia chefe do bando, não obteve resultado algum, salvo identificar que estava tratando com Edgard Caetano, um sequestrador conhecido. Era um homem sem alma, este Edgard. Como todos sabem, sem alma para ele, porque a família era sagrada.
O oficial do BOPE fora aluno do capitão Callado, o “Coisa Ruim”. Fizeram amizade e no seu celular estava o nome do oficial dos serviços especiais do Exército. Ligou. Duas chamadas apenas e Callado já respondia.
- Levo apenas dois da minha confiança. Fica frio.
Em pouco tempo falava com o chefe da corja, verbalmente.
O “Coisa Ruim” era bastante violento, todos sabiam deste seu lado. Mas não era covarde, fato também conhecido.
- Edgard, seu filho da puta, você foi expulso do Exército por causa de trafico. Virou assaltante?
- Capitão, é a minha vida. Não se meta, o senhor não é polícia.
- Sai daí, veado. Ou quer escutar a voz do seu filho menor levando porrada?
- Pelo amor de Deus, capitão. Minha família deixa fora. O senhor não tem respeito por ninguém! Bateram na minha mãe.
- E agora vamos encher de porrada sua mulher e seus filhos. Liga teu celular para ela, idiota.
O marginal fez isso. Ficou sem fala. Na sua casa já estavam quatro mascarados que ele sabia serem da equipe do capitão Callado, o “Coisa Ruim”.
Entregou-se na hora, suplicando que o capitão Callado não fizesse nada contra ninguém.
Bandidos também têm pai, mãe, mulher e filhos.