Brincando com as palavras
Brincando com as palavras
Dizem acertadamente que papel aguenta tudo, até insônia e desvarios de poeta...Vejamos...
Ponho-me diante de um espelho e, o que vejo, me satisfaz.Tenho uma boa altura, sou de pele branca, olhos azuis como o mais límpido dos azuis, pernas torneadas e bem feitas, cabelos finos e claros alcançando a bunda, maõs que poderiam perfeitamente pertencer a uma artista.
Bem, essa poderia ser uma imagem satisfatória, mas vejamos outra realidade.
Tenho estatura mediana, pele negra e macia, de uma maciez que deixaria o pêssego com inveja, meus cabelos lembram os cachinhos dos anjos barrocos, tenho coxas roliças, dentes alvos e caderuda.
Poderia dizer que estou numa varanda dentro de uma rede alva ou que uma praia paradisíaca me serve de cenário. Seria extremamente feliz ou amargaria uma solidão sem par.
Sinto-me poderosa, com força para decidir toda uma vida, ou quem sabe, várias vidas. Sou soberana e manipulo a realidade a meu bel prazer. Faço de minhas palavras uma verdade que será só minha e talvez sua que está lendo esse amontoado de besteiras. Por enquanto, terei o direito de brincar com a realidade, decidindo pessoas, vidas...me decidindo.
Estou nas margens de um riacho, suas águas cristalinas refletem minha imagem e o que vejo muito me agrada. Sou uma mulher de meia idade, pele morena, de uma morenez avivada pelo sol de meu nordeste. Meus cabelos não balançam com o vento, mas meus olhos mantêm o azul dos olhos dos sertanejos. Minhas maõs não são longas, e, nada têm da maciez da seda, mas, o calejamento da lida diária.
Exito na hora de me decidir qual personagem irei encarnar. Por alguns momentos poderei optar qual serei, que caminhos seguir e qual destino terei. Brincarei com as palavras, testando a força delas,
e, decidirei qual roupagem me darei. Enfim, poderei mesclar todas e terei uma mulher verdadeira, que ultrapassa a frágil verdade da aparencia física. Não terá a perfeição pretendida, nem será feliz ou infeliz permanentemente. Será apenas mais um ser humano nessa vida de misturas que a fazem digna de ser vivida. Pouco importa a casca, se na verdade, ela apenas protege o que de mais importante a pessoa tem, a essência.
Na verdade, tenho um pouco de todas, e, quase nada de muitas, mas, volto á minha realidade. Meu passeio como oleira acabou, resumiu-se a uma amontoado de palavras sem nexo que escrevi numa manhã ainda não completada, mas o sol já surge imponente me lembrando que a realidade existe.
É nisso que dá ser viciada em escrever...