Natal Caipira (parte 2)
A data mais que esperada pela garotada anuncia novidades. O bom desempenho durante o ano escolar leva a uma certeza; brinquedo na noite de Natal. A festa reúne a família, sempre após a Missa do Galo. Sinto um pensamento instigar o lado escuro da minha personalidade. Não quero ir à missa. Pontos cruciais aumentam a gula e o egoísmo: a demora na celebração faz o cérebro instigar o estomago e a lembrança da leitoa pururuca no forno é mais forte que a religiosidade.
O coro canta um hino em latim. Não entendo! Começo a pensar: qual o motivo da ave estar envolvida na missa? A fome aumenta. Mamãe recheou dois frangos com farofa de miúdos, alho, ameixa preta e muitas azeitonas. Fecho os olhos e sinto o sabor da farofa misturada com a carne tenra invadir as minhas papilas gustativas.
Um paroquiano idá inicio a leitura das preces comunitárias:
_Irmãos e irmãs, com confiança filial elevemos a Deus nossas preces comunitárias. Para que o nascimento do Menino Deus, reacenda com a força a nossa fé. Rezemos...
Sem pensar respondo:
_Senhor, deixe o melhor pedaço para mim.
Mamãe sem entender belisca o meu braço.
Olhei para ela e peço desculpa.
O comentarista lê:
_Somos todos convidados para participar da grande festa dos filhos de Deus. Ao redor da mesa viemos buscar nossa força, nosso sustento espiritual para a vivência fiei da nossa missão.
Olho com olhos de gula: “Mãe, mãe..., agora o padre vai servir comida. Estou com fome”.
Outro beliscão.
Uma senhora explica os símbolos natalinos. Estou em outro local, mais propriamente, na cozinha lambendo os beiços depois de comer a ceia natalina.
A mulher continua: A idéia de trocar presentes no Natal está relacionada, entre outros motivos, aos magos que trouxeram presentes para o menino Jesus.
Falo no ouvido da minha irmâ: A missa do galo deve ser depois de todos comerem e cantarem parabéns para o recém nascido.
A minha irmã me olha e balança a cabeça, dizendo sim. E a missa continua...