De que cor é a sua consciência?

Estamos às vésperas do Dia da Consciência Negra. Neste dia 20 de novembro o país inteiro se cerca de manifestações culturais e educativas para lembrar que os negros que aqui vieram abrir caminhos, estruturar propriedades e servir aos brancos, têm direitos iguais adquiridos e resguardados pela Constituição Brasileira.

Porém, passadas a data e as manifestações, a sensação que fica é que tudo permanece como sempre esteve. O negro em considerável desvantagem social.
Podemos dizer que não. Podemos defender que a população negra tem ocupado cada vez mais o espaço que lhe pertence. Cada branco deste país pode jurar não ser racista ou preconceituoso. Mas, talvez seja esta a maior mentira que contamos a nós mesmos.
Mais uma vez a culpa não é somente do governo. Novamente são as atitudes ou as omissões da sociedade que sustentam este racismo mascarado, este preconceito disfarçado. Afinal, não são os governantes que irão decretar que este ou aquele cidadão negro deve ser inserido em uma empresa, em uma instituição, em um grupo. Cabe à sociedade ações de inclusão destes indivíduos. Cabe a cada um de nós a dissolução da hegemonia da casta alva, para que a verdadeira miscigenação aconteça.
Respeitar o negro não é somente admiti-lo como serviçal ou amigo. É necessário honrar a cultura de que descendem, da qual trouxeram para o Brasil a herança africana. Que, diga-se de passagem, é a nossa mais legítima identidade.
Os negros trouxeram em sua bagagem (além do sofrimento e dor), preciosidades difundidas no Brasil como a capoeira, o maracatu, o tambor de crioula, o cateretê, o jongo, o carimbó, os blocos afro e, e, é claro, a nossa assinatura musical mundial, o samba. Sem falar da peculiar e apreciadíssima culinária.
Mesmo assim, ainda se vê a ignorância e a estupidez de escravocratas contemporâneos oprimindo, ridicularizando e repelindo as manifestações afro, como os terreiros de candomblé. Catalogando-os como seguidores de um diabo do qual ninguém nunca viu os chifres.
Para resumir, o Brasil e consequentemente o povo brasileiro tem muito mais do sangue africano do que aparentemente gostaria. Ignorar isto é renegar a própria origem. Unirmo-nos numa justa comunhão é o mínimo a que se fazer, e para isto não precisamos que governo nenhum nos dê aval.
O Dia da Consciência Negra vem aí, e é bom lembrarmos que esta conscientização deve partir principalmente da população branca.
E, com um coração que ainda acredita, eu clamo:

Há de chegar o dia em que a cor não diferenciará os homens. Em que todos serão transparentes e justos.


Léia Batista

(Crônica publicada no jornal Semana News - Araranguá SC)

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Léia Batista
Enviado por Léia Batista em 19/11/2009
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