A AVENIDA

A noite era quase escura na Avenida que margeava o córrego. As luzes silenciosas dos postes desprendiam-se na sua ingênua castidade a iluminar fracamente sua distância linear e sumir na curva seguinte.

Com a noite, foi-se a visão de seu movimento para dentro das casas, longe das poucas retinas andantes que ainda se aventuram a cruzar suas passagens.

É mais uma noite fria. A avenida chorou gotas de orvalho do inverno no asfalto severo e sentiu os coágulos de luz e frio se jogarem tímidas na sua máscara escura.

O artifício brilhante das lâmpadas era quase nada em seu asfalto sombrio, dando-lhe ares de uma penumbra misteriosa.

Misturou então sua penumbra nas solitárias presenças imprecisas. Misturou penumbra nas carnes que despiam seus desejos flamejantes e se entregavam ao amor afoito no espaço ínfimo de um carro qualquer.

Mas depois da noite veio a madrugada quase a abraçar o alvorecer. A avenida adormecida em suas próprias sombras colheu em seu cálice negro as gotas de orvalho qual vinho sem cor.

Solitária esperou o amanhecer...

Sonia de Fátima Machado Silva
Enviado por Sonia de Fátima Machado Silva em 13/07/2006
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