Batendo de frente com a dor
Rasgar-se...
Expor-se em carne viva,
Deixar à mostra ossos e músculos...
Esvair-se em sangue quente,
Que jorra contaminado de tristeza.
Descobrir-se...
Sentimentos dúbios,
Raiva, decepção, indignação...
Deixar tudo à mostra,
Olhar-se por dentro,
Ver-se então, ferida...
Dolorida até a última fibra do ser,
Com as feridas expostas,
Com as dores todas inflamadas...
Ver-se frágil, fraca, sozinha...
Sentir de uma só vez...
Toda a dor, toda a angústia...
Perceber-se esquecida...
Sentir a dor de forma plena,
sem paliativo, sem remédio, sem saída!
Ir ao fundo e ir fundo...
Sorver cada gosto amargo...
Engolir cada dor a seco,
Derramar toda a lágrima contida...
Expor-se a si mesma...
Olhar a desordem,
Perceber as fraquezas,
Aceitar o que não se muda...
E mudar o que não se aceita.
Chorar, gritar, maldizer....
Chegar ao fundo do fundo,
Onde tudo é limbo,
Tudo é feio, tudo é dor...
Só assim, vou poder olhar-me outra vez...
Vou poder ressurgir dos restos de mim mesma,
Vou poder olhar meu reflexo,
De carnes rasgadas até o sangue...
De dores sentidas até a alma...
Quando assim, eu conseguir me ver...
Poderei enfim... recomeçar!
"Às vezes, a gente só consegue levantar depois de enfrentar os mais escuros labirintos da dor...
Depois que encaramos os medos, as incertezas, as decepções...
Depois que paramos de culpar tudo ou todos... e encontramos coragem para olhar de frente as nossas próprias falhas."
O processo todo é lento e doloroso, mas é necessário para que se consiga atingir o objetivo.
Bater de frente não só com a dor, mas com os medos, com as fraquezas...encarando de frente a própria covardia, que tantas vezes nos impede a coragem para mudar."