Batendo de frente com a dor

Rasgar-se...

Expor-se em carne viva,

Deixar à mostra ossos e músculos...

Esvair-se em sangue quente,

Que jorra contaminado de tristeza.

Descobrir-se...

Sentimentos dúbios,

Raiva, decepção, indignação...

Deixar tudo à mostra,

Olhar-se por dentro,

Ver-se então, ferida...

Dolorida até a última fibra do ser,

Com as feridas expostas,

Com as dores todas inflamadas...

Ver-se frágil, fraca, sozinha...

Sentir de uma só vez...

Toda a dor, toda a angústia...

Perceber-se esquecida...

Sentir a dor de forma plena,

sem paliativo, sem remédio, sem saída!

Ir ao fundo e ir fundo...

Sorver cada gosto amargo...

Engolir cada dor a seco,

Derramar toda a lágrima contida...

Expor-se a si mesma...

Olhar a desordem,

Perceber as fraquezas,

Aceitar o que não se muda...

E mudar o que não se aceita.

Chorar, gritar, maldizer....

Chegar ao fundo do fundo,

Onde tudo é limbo,

Tudo é feio, tudo é dor...

Só assim, vou poder olhar-me outra vez...

Vou poder ressurgir dos restos de mim mesma,

Vou poder olhar meu reflexo,

De carnes rasgadas até o sangue...

De dores sentidas até a alma...

Quando assim, eu conseguir me ver...

Poderei enfim... recomeçar!

"Às vezes, a gente só consegue levantar depois de enfrentar os mais escuros labirintos da dor...

Depois que encaramos os medos, as incertezas, as decepções...

Depois que paramos de culpar tudo ou todos... e encontramos coragem para olhar de frente as nossas próprias falhas."

O processo todo é lento e doloroso, mas é necessário para que se consiga atingir o objetivo.

Bater de frente não só com a dor, mas com os medos, com as fraquezas...encarando de frente a própria covardia, que tantas vezes nos impede a coragem para mudar."

Maristela Silva
Enviado por Maristela Silva em 19/11/2009
Reeditado em 19/11/2009
Código do texto: T1932346
Copyright © 2009. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.