ÀS VEZES ACONTECE


 
 
         Às vezes acontece estar sem felicidade. Nem bem se sabe por quê. Então vou ver “Mulheres de Areia". Minha filha dorme no meio da tarde, bem aqui perto em minha casa. A presença dela é um bem.

         Ligo Mulheres de Areia.
         Lençóis do Maranhão é a primeira imagem do filme. Lindo.

         Às vezes, o lindo é triste.
         Ou o triste é lindo, às vezes?

         “Fernandas” Filha e Mãe num lugar sofrido, agreste, cruel. Um vento levanta a areia e machuca a pele e a alma delas. Chegam a um ponto ignorado. Mas encontram água num lago.
         Pausa.

         Por que tanto sofrer? Na pausa, pensa-se, é inevitável. Para evitar ter contato com este sentir é que muita gente não para de fazer alguma coisa sempre.

         O homem, nestas condições, logo encima uma mulher, se uma houver, para desafogo de sua aflição. É um mau pensamento, mas o homem é um animal, bestial e egoísta quando está em limite de sua humanidade. 

         Na mesma condição, a mulher é muito superior; no seu extremo, nela despertam sua força e sua bondade.

         Mas... Minha filha acorda e sugere um passeio de carro pela praia. Ótima sugestão. Paro tudo e vamos.
         No carro vendo a orla, o mar, os freqüentadores no seu lazer, a areia, o sol na areia, o céu azul confundido com o horizonte, eu pra minha filha:

_ “Eu acho que gosto mais da Natureza do que da Beleza”. E você?

 Ela: _ “Da Beleza”.

         E continuamos, admirando a praia, o povo animado, o sol ainda batendo no alto Pão de Açúcar e na Urca. Curtindo o Rio, no silêncio.
Mas, o friozinho da tarde envolvendo pescoço e ombros indica voltar.  Amanhã ela viaja sozinha a trabalho, pra Bélgica. Duas semanas lá.


         Deu-me este passeio hoje, que já estou um mês presa a casa, ao repouso dos joelhos. 
         Um silêncio. 

         Um silêncio fala tanto...