IMPOSSÍVEL ENTERRAR O PASSADO
“... é fogo de Camões que arde sem se ver...
é o desejo de Drummond num curto espaço
de beijar ... é a solidão de Lispector pedindo pra ficar ....
é a Alma pedindo um pouco de calma de Lenine ...
é um sofrimento que avassala e que qto mais se sofre ,
mais se quer!!!”
(comentário de Ariadne Valetim no poema “Não é Fácil” de
Zélia M. Freire)
E não me venha dizer que o que está passado e o puro nada são a mesma coisa. Impossível enterrar o passado, de um jeito ou de outro ele sempre consegue escapar. É como se cada um tivesse o seu próprio retrovisor para espiar.
Hoje estou “espiando” para o que eu escrevi há oito meses atrás e que neste momento me cai como uma luva. É o que se segue:
“Tranqüilo é o fundo do meu mar. Quem adivinharia que oculta monstros divertidos”...
Este é o Mar de Zaratustra. O fundo do meu mar não é tranqüilo e os monstros que existem nele não são divertidos, a mim parecem prontos a darem um salto na minha direção e quanto mais corro fugindo deles, não saio do lugar e nem a minha sombra consigo pular. Preciso voar para mais longe de onde estou; mas que adianta, eles me seguirão, eles vivem dentro do meu mar e o mar em mim. Ah, quantos enigmas e eu não os consigo decifrar... Sou a ruptura dos meus próprios pensamentos Preciso pedir ao pai..., mas ao pai de quem, para afastar de mim este cálice? Não, eu não quero pedir nada, só quero subir na mais alta montanha, abrir os meus braços e proclamar alto e bom som a minha liberdade, para depois deixar-me despencar num vôo livre e feito Ícaro, de asas derretidas, afundar nas águas profundas de um oceano qualquer, afogando comigo o lado sombrio do meu eu.