Não era pra levar a sério!

Não era pra ele levar a sério! Era dia primeiro de abril e eu e o Júlio estávamos no carro, indo fazer uma visita para meus pais. Já era final da tarde e eu ainda não tinha pregado nenhuma peça nele de dia da mentira. Ai, tive uma idéia de uma mentira, e falei pra ele : “Quero me casar!”

Ele olhou pra mim com uma cara de muito surpreso e não falou nenhuma palavra. Ficou só me olhando! E eu continuei a mentira: “É não sei se você lembra, mas há dez anos atrás quando começamos a namorar eu te falei que ia te dar um prazo pra você casar comigo. E te dei um prazo bem curtinho. Dez anos. Pois é! A gente faz dez anos juntos esse ano... então, ou você se casa comigo, ou eu vou me casar com outra pessoa, mas esse ano eu caso!

Fiquei quieta me lembrando da cara dele dez anos atrás quando eu falei isso pra ele! Ele me pediu em namoro, eu disse que sim. E logo falei pra ele que eu era moça seria, que não era de ficar namorando, e que ia dar um prazo pra ele me pedir em casamento. Quase deu pra ler o pensamento dele achando que tinha feito merda, que eu devia ser uma maluca ou coisa assim!Mas antes dele ficar muito assustado eu falei: “Você só tem dez anos pra se casar comigo!” E a cara de alívio dele foi o máximo!Eu comecei a rir, e ele quase me bateu quando entendeu que eu estava brincando com aquela coisa de casamento.

E nesse dia primeiro de abril foi a mesma coisa. Só que eu ainda estava esperando ele falar qualquer coisa para eu dizer a famosa frase: PRIMEIRO DE ABRIL! Mas ele não falou nada.

Já morávamos juntos há algum tempo, e eu realmente nunca liguei para essa coisa de casamento. Sempre achei esse negocio de assinar papel uma besteira! Nunca sonhei em entrar em igreja vestida de branco nem nada. Na verdade, imaginar essa cena me dava meio que arrepios. Eu vestida igual uma sei lá o que e todo mundo olhando pra mim! Credo! E o Julio continuou quieto!

Quando chegamos na casa da minha mãe, imaginei que ele devia estar fingindo que não ouviu pra não ter que conversar sobre o assunto. Droga! Estragou a brincadeira, pensei!

Entramos na casa da minha mãe e sentamos na sala pra bater papo como sempre fazíamos. Depois que todo mundo sentou, o Julio levantou e muito sério e olhando pra minha mãe ele falou: “Eu e a Raquel resolvemos nos casar e vai ser ainda este ano!”

Caramba! Meu mundo rodou umas três vezes! Tentei falar várias vezes, mas a voz simplesmente não saia. Minha mãe começou a chorar de felicidade (ela sempre sonhou com essas paradas de ver a filha de noiva e tal, e já tinha ate desistido), o Julio rindo feito criança e eu querendo gritar: NÃO!!!! HOJE É PRIMEIRO DE ABRIL PORRA!!!

Meu padrasto pegou vinho pra gente brindar, todo mundo feliz e eu só pensava: Me fudi! Não consegui desmentir o Julio. Não consegui explicar pra eles! Não consegui falar mais nada vendo todas aquelas pessoas que eu amava tanto super empolgadas com a possibilidade do casamento. E eles passaram o resto da noite comemorando e a minha mãe e o Julio fazendo os planos de como seria e onde seria.

Quando estávamos no carro, voltando pra casa, eu falei meio que rindo pro Julio: “Você sabia que hoje é primeiro de abril?” E ele me respondeu: “Eu não somente sei isso como eu sabia que se falasse com você no carro qualquer coisa da sua proposta de casamento você ia desmentir dizendo que era dia da mentira. Então eu fiquei quieto e esperei pra falar com todo mundo, assim você não ia ter como desmentir. E agora não vai ter jeito... você vai casar comigo!” E começou a rir!

Eu fiquei chocada! Filho da puta! Eu me achando esperta e crente que tava aprontando com ele e ele armando pra mim o tempo todo! Safado! Mas... como é que eu podia ficar brava com ele? Sério! Como é que você fica brava com um cara que arma pra se casar com você! Eu comecei a rir também e meio sem graça, tudo o que eu consegui dizer pra ele foi: “Poxa, não era pra você levar à serio!” E ai foi que ele riu mais ainda, enquanto íamos para casa.