COADJUVANTES
E eis que (já?) estamos em meados de novembro... E em Rio Grande cabe até trilha sonora, *November Rain, pois as fortes trovoadas lavam e levam consigo os últimos resquícios do corrente ano.
(*Chuva de novembro — Menção a uma música da banda Guns N' Roses).
Talvez tenha sido esta a forma que o décimo primeiro mês do calendário gregoriano arrumou para se destacar e, ao menos neste ano, ser mais que um mero coadjuvante do seu vizinho, o tão festivo mês de dezembro — alvo de toda a atenção da mídia, do comércio e consequentemente da nossa também!
Há de se compreender as lágrimas deste novembro, afinal, estar fadado ao destino de ser um eterno coadjuvante parece algo no mínimo desagradável. Já se imaginou vivendo à sombra de outrem? Coadjuvar é uma tarefa árdua, porém necessária, um papel que requer um extremo altruísmo e perseverança, digno de poucos!
O bom coadjuvante não é aquele que rouba o papel do protagonista, como muitas vezes ocorre no cinema e na literatura, pelo contrário: se isso ocorre é sinal de que alguém errou na dose, ou o protagonista que não brilhou o suficiente, ou o coadjuvante que o ofuscou por brilhar demais.
Ser um bom coadjuvante não é roubar o foco, mas sim se fazer notar dentro do espaço designado, sem a necessidade de invadir o espaço alheio, e algumas vezes ser até mesmo um tanto opaco para que o outro brilhe mais. É trabalhar em prol do sucesso alheio e coletivo, sabendo que os louros raramente o adornarão.
E arte imita a vida e vice-versa, nem sempre nos cabe o papel de protagonista — na nossa própria vida sim, mas não na vida em sociedade. Às vezes é preciso recuar um passo no palco para que outro fique na luz, o que na prática significa vestir algo mais cinza para que uma amiga receba os elogios ou calar para que outro expresse algo que você julga saber melhor. Reconhecer e respeitar o grande momento de alguém é um ato de respeito e amor.
Não há nada mais constrangedor do que uma madrinha de casamento vestida em vermelho berrante, com um decote que quase encontra a barra do vestido ou uma formanda que resolve quebrar o protocolo para encarnar a vedete e dançar um cancan com a beca, ignorando os cem outros colegas que partilham a cerimônia. É bom lembrar a velha premissa de que a liberdade de um acaba no momento que invade a individualidade do outro.
Precisamos entender que em certas ocasiões é preciso ser secundário. E isto não significa ser irrelevante, muito pelo contrário: o que seria do Batman sem o Robin (ou o Coringa), da Noiva sem as madrinhas (ou o noivo), do sabão em pó sem o amaciante (ou o alvejante), do Papai-Noel sem as Renas (ou o saco), do mês de dezembro sem o novembro para se fazer as listas de compras e do janeiro para se pagar por elas?
Tudo bem, talvez estas não tenham sido as melhores metáforas, mas creio que contribuíram para o que esta crônica tenta expressar e assim sendo, foram bons coadjuvantes!
*Crônica publicada no Caderno Mulher Interativa - Jornal Agora em Novembro de 2009 / Rio Grande - RS