MODELITO NOVO DE SOMBRINHA

Quando eu era moça (tem tempo!), eu não era apaixonada nem por salão de beleza e nem por manicures ou pedicures, pois considerava tudo uma chatice e uma enorme perda de tempo ficar plantada por horas, só para satisfazer os olhos alheios. Porém, eu os freqüentava, pois não ousava ser diferente das minhas amigas.

Acho que minha primeira cabeleireira foi a Jacy, por quem tenho um enorme carinho. Naquela época, no início dos anos 70, para “domar minha juba” os produtos eram feito à base de soda, acho. Uma vez emplastados os cabelos, invadia às narinas um cheiro horroroso, a cabeça coçava e queimava anunciando o monte de feridinhas que iriam morar durante umas duas semanas no nosso couro cabeludo.

Manicures? Tirando a Janea ou a Celi Padilha, nossas queridas J. Sisters, não me lembro dos nomes de muitas outras. Por outro lado, sou capaz de me lembrar de alguns nomes de cores de esmaltes que já não mais existem, tais como: Areia e Beterraba. Recordo-me, também, de ouvir ou de participar de “comentários inocentes”, muito comuns nesse tipo de ambiente, na época: “Fulana repetiu roupa na missa de domingo passado ou na domingueira do Guararema. Parece que não tem roupas!”, “Beltrana está namorando aquele feio só porque ele anda de camionete e o pai dele tem uma fazenda e uma serraria”, “Sabia que siclana vai ter de casar na “igreja verde“*, porque foi namorar pelada e um espermatozóide subiu pelas pernas dela?...”

Juntando esse tipo de cultura inútil com minha preguiça, eu jurei que não mais faria unhas quando eu casasse e só iria ao cabeleireiro para cortar, bem baixinho, os meus cabelos. Pintá-los? Eu mesmo faria isso. Durante 26 anos foi assim que eu procedi, abrindo exceções em situações muuuuito especiais.

Este ano, não sei se por velhice, por não gostar muito do que o espelho tem me mostrado ou se por influências do zoodíaco; baixou-me um fogo no rabo, uma sonseira, e eu voltei a satisfazer os olhos das pessoas que consideram relaxadas aquelas que não têm muito tempo para se cuidar.

Assim, desde maio eu decidi voltar a fazer unhas regularmente, optei por deixar a “crina” crescer e por fazer algo para domá-la. Então, aceitei que passassem uma nova soda chamada Marula (deve ter formol, pois é fedido também. Só não dá perebinha, mas acho que mata a gente em doses homeopáticas. Rs,rs,rs...) e que finalizassem o trabalho “pranchando” (nome novo para “chapinha”).

Achando que era pouco, resolvi mudar a cor dos cabelos: há semanas em que eu sou ruiva bem à moda de minha amiga, Aninha Paraíso, às vezes pinto de cereja, às vezes de bordeaux, outras de chocolate quente... De repente eu me pego usando presilhas, tiaras, ou balançando ou soprando meus cabelos “lisos de nascença”... Tenho me sentido uma legítima japonesa.

No sábado à tarde, dia 31 de outubro de 2009, chovia para caramba, mas eu precisava de que pintassem, escovassem e pranchassem meus cabelos, já que eu queria satisfazer os olhos dos convidados do casamento de Dany e Noé, os noivos cujo casamento eu tive o prazer de fotografar.

Um pouquinho antes do meu horário, passei em um supermercado para comprar a tinta, por isso cheguei ao salão com uma sacolinha na mão. Enquanto eu aguardava, reparei uma sujeita mais feia do que eu. Nossos olhos se encontraram logo após eu fitar os seus cabelos duros, parecendo um capacete, e ela observar a sacolinha sem-vergonha que eu trazia na mão.

Enquanto as meninas do Salão Brilho Natural, do BNH, cuidavam de mim, percebi que outras cuidavam da capacetuda, provavelmente, com “escova definitiva”. Uma hora e meia depois, meus cabelos já estavam muito bonitos e o elmo da moça continuava feioso. Pelo espelho observei frustração e raiva em seus olhos, que se alternavam entre a sua própria imagem e a minha.

Terminaram o serviço e eu estava prestes a sair quando a chuva engrossou. Juro que vi um sorrisinho perverso no sorriso da feia, como se pensasse: “Está sem sombrinha. Bem feito! Esse cabelo bonito vai virar um pinto molhado.”.

Pensa que eu dei bola? Rapidamente eu improvisei uma sombrinha. Sabe como? Coloquei a sacolinha de supermercados nos cabelos e dirigi-me até meu carro, feliz, feliz, por frustrar a menos bela do que eu.

* Igreja verde= cartório civil.

NORMA ASTRÉA
Enviado por NORMA ASTRÉA em 18/11/2009
Reeditado em 22/05/2012
Código do texto: T1930931
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