.meia cama vazia

Hoje acordei e observei que não existem fantasmas assombrando o meu quarto, o meu peito, não há nenhuma presença por ali.

É eu não tinha atentado pra isso.

Tomei banho e voltei nua caminhando pelo apartamento, secando os cabelos, abrindo a geladeira pra pensar no que comer pela manhã, a casa estava um caos perfeitamente enquadrado em desordem. Voltei ao quarto pra me vestir e dei de cara com a cama com apenas metade desarrumada, apenas metade do lençol amassado, apenas metade do edredon retirado, apenas metade de tudo e percebi a minha "meia cama vazia".

Foi tão fácil arrumá-la. Apenas estiquei um pouco aquela parte do lençol, puxei aquela pequena parte do edredon e pronto.

Ser só é tão simples, né?!

Mas, quem disse que o coração gosta dessas coisas simples? Para ele estar metade vazio é insuportável lida. Para o coração, como para aquele dente molar que a gente tem no canto da boca, um buraquinho que seja, um pequenino espaço já equivale a um sofrimento medonho, noites de angústia e dor em clarão sem conseguir dormir, sem conseguir pensar... sem ser!

Ainda bem que existem dentistas e ainda bem que existem paixões.

Não entendo exatamente do que estou sentindo, mas hoje eu queria lhe convidar pra vir fazer parte do meu cotidiano, pra deixar seus rastros por aqui, pelo meu viver, pra deixar do seu cheiro em meu travesseiro, pra rolar inquietante por toda a noite na outra metade da minha cama, pra interromper meus sonhos nas madrugadas com o seu sonâmbulismo e falação desvairada. Acho que você bem que podia preencher esse outro lado da minha cama. E se ficar mais difícil de arrumar na manhã seguinte tanto melhor será, que eu preciso de algum desafio pra me mover. E vou me deliciar olhando toda aquela desordem à minha volta, assim quando você se for eu ainda vou lhe sentir presente.

É engraçado como você exerce uma força quase que gravitacional sobre o meu corpo, parece com a mesma força de atração que sinto quando estou passando por uma parede chapiscada e acabo sempre me arranhando. Andando ao seu lado o sentir me arranha a todo instante e de súbito me vejo te abraçando, do nada. Nem considero mais isso como ocasional, parece que o ocasional, o acidente, é que eu ainda consiga andar de pé contigo.

Enquanto você preenche os buraquinhos vazios da minha vida assim meio sem querer, eu lhe estudo, lhe decoro e sigo me encantando por esse novo sentir que você vem me trazendo.

Ingrid Fernandes
Enviado por Ingrid Fernandes em 18/11/2009
Reeditado em 02/03/2011
Código do texto: T1930761
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