Naquele dia em que nada acontecia.
Naquele dia, em que tudo se parecia como nos outros dias , tudo era igual... o céu, o vento, as pessoas que passavam por mim, inclusive eu. Dentro de mim, os mesmos sentimentos de antes. Nada mudava. Parecia um continuo perpétuo em que as coisas aconteciam e se repetiam e se alguma coisa era diferente, a ausencia de interesse nem deixava que fosse notada por quem quer que seja. O vazio de coisas novas aumentava a vontade de mudar. Mudar alguma coisa. Era preciso! Mas a continuidade das coisas era tão forte que a vontade de mudar era esmagada por essa força invisível que a tudo e a todos dominava. Mas naquele dia, apesar de ainda não ter se acabado e ainda ser o mesmo dia em que tudo isso não acontecia, algo estranho acelerou meu coração. Era um nó na garganta que me fez imaginar ser um mal súbito. Em meus pensamentos que se desvaneciam como fumaça, e não se fixavam a nada, uma pergunta se formou: - Será que a vida é uma sequência de rotinas que fatalmente se acabará com a morte? Não! Me recuso a pensar que sim. Não é possível que tudo a minha volta, do que vejo e do que não vejo se limite a isso! É algo tão vazio e sem propósito que até mesmo as coisas mais simples e meigas perdem seu sentido. Essa recusa de aceitar algo tão vazio me fortalecia. Percebi que isso mudava tudo. Essa recusa me mostrava justamente que um ser habita dentro mim. Um ser diferente, que nesse instante se levantava como um guerreiro indomável a me levantar e me resgatar dessa ausencia de tudo. Com um olhar diferente de antes, com a certeza invisível que habita em cada um de nós que algo mais existe, fitei o horizonte, onde naquele momento o sol se escondia colorindo o céu com nuances avermelhadas. Percebi então, de que SOU AQUILO QUE PENSO e que meus pensamentos se materializam no éter. Assim, em poucos instantes, naquele dia em que tudo se parecia como nos outros dias, esse dia já não mais existia. Agora começava a noite que traria um novo dia em que tudo seria e aconteceria, pois a maneira errada de ver e de pensar coisas, havia se acabado, juntamente com o dia em que nada acontecia e que, até então, em mim, nada havia mudado.