ALIENÍGENA
Alienígena neste, como em todos os mundos, à semelhança daquele "estrangeiro aqui e em toda parte" de Fernando Pessoa. A questão é que, o personagem a dizer "alienígena neste, como em todos os mundos", sabe-se, efetivamente, um ninguém, enquanto Fernando Pessoa ao se afirmar "não sou nada" praticava, por um lado, o famoso fingimento pessoano ( porque, em verdade, o Poeta sabia-se grande, sabia-se muito, daí sua necessidade de repartir-se por tantos);por outro lado, dizia-se a verdade na afirmação "não sou nada", exatamente porque "não pode haver tantos".
Não é bem o caso do alienígena em questão. Aliás, não há questão alguma a tratar. O alienígena sem questão qualquer a propor é apenas isto: alienígena-ninguém. Para ele não há heterônimos possíveis sequer necessários que, só necessários seriam se houvesse uma necessidade de expressão tão múltipla e tão multifacetada quanto a precisada por Fernando Pessoa com seus recursos de linguagem amplos, na igual medida da sua loucura lúcida quanto a
própria lucidez.
Para o alienígena-ninguém, se ousasse levar-se a si próprio até as últimas consequências, só lhe restaria o polo da loucura, que também se pode múltipla, ampla, multifacetada. O presente alienigena o sabe muito bem, que ainda lhe resta alguma lucidez para sabê-lo. Alguma lucidez.
Zuleika dos Reis
Ainda na manhã de 18 de novembro de 2009, quarta-feira.